quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Calendário eterno

Um dia...
um dia amei uma mulher com todas as forças do meu coração
fui mudado por ela e pelo mundo.
Um dia cresci e não era o limite
continuo buscando o crescimento.
Um dia o que eu me tornei desagradou à quem amava
e um dia nos separamos, era dia mas nada era claro.
Um dia, confuso, me peguei a pensar ouvindo Belchior:
"O que algum tempo era jovem novo hoje é antigo e precisamos todos rejuvenescer"
Neste dia entendi o que ele dizia e entendi a diferença de fazer a diferença!
Um dia ei de viver tudo de novo e escrever outro poema, pra uma nova dor...


à meu ex-amor

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Cuidado com o espaço entre a realidade e o sonho!

De cabeça pra baixo,
as árvores, os prédios, a vida!
Toda forma refletida no cinza metálico do rio
ganha outra dimensão.

O cheiro forte, o cheiro de morte, percorre
o caminho que leva o trabalhador pra penitência.
A ausência de sentido, a improvavel mudança,
o fone no ouvido, a distância.

As mesmas pessoas no vagão, as mesmas que vejo cotidianamente,
mas nunca conversei, cada um no seu mundo essa é a lei.
Ouso as mesmas palavras de ordem: Não fique na região das portas!!
Não Fume!! Não coloque os pés nos assentos!!
Cuidado com o espaço entre o trem e plartaforma!

A massa se desloca acelerada, o atraso, a porta fechada,
o corpo cansado, o tempo, o atual momento,
o nada que reinvento todo dia.

A alegria de final de semana, de fim de mês
a repetição de tudo mesmo que de forma diferente
sigo assim à jogar sementes no asfalto...desesperadamente!!

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Meu dilúvio

Edifiquei-me de forma sólida,
força? Sei lá de onde veio, mas tive
mesmo não sendo comun de onde eu vim te-la.

Levantei minha cabeça
quando descobri que ela podia ser mais leve
sem todo o peso da vergonha.

Dei-me o direito de sonhar
quando percebi não ser pecado,
quando percebi não ser necessário doutorado.

Lutei como um combatente de guerra
quando descobri por que lutar,
quando descobri que também possuia armas
armas que não necessáriamente cuspam fogo,
mas que protegem e me fazem vitorioso no campo de batalha.

libertei algumas pessoas de determinadas algemas,
algumas que carrego até hoje,
livre, tento diariamente ser
mesmo que tenha medo dos resultados que conquistarei
mesmo sem saber ao certo o que é essa tal liberdade,
pra mim basta saber que odeio as prisões...

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Desconcerto

Dança em mim, em MI...
Dança ciranda inconsciênte
e eu assisto à tudo sem agir.
Penso enquanto você dança, essa velha dança
dança que eu conheço bem e sei
você não sabe dançar,
mas ainda assim dança
pra me perturbar, pra me enlouquecer!!!!!!
Eu sei dançar, mas prefiro a idéia.
Você dançando em mim, abelha na colméia,
A melodia não importa,
mesmo nas mais conhecidas você sai fora do tempo
sua dança não precisa de relógio
seu compasso é desforme, sem nome, sem reza
você dança por dançar
como quem faz arte pela arte
e eu luto pra entender por que não paro de observar sua dança
você não se cansa eu não me canso
e segue a dança e segue a hipnose.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O tempo que passou

O tempo que passou me deixou sem tempo
e correr atrás de mim mesmo passou à ser meu tormento
meu passa-tempo predileto "o retransfigurar-se",
"o recontextualizar-se", "o me ser de novo".

Nessa busca separo-me:
-Um pra cada lado!! Vai, vai!!
Trago-me à força muitas vezes,
reabro cicatrizes,
sigo numa pilhagem
que ao mesmo tempo suja e purifica.

Um cata-vento ao avesso, trazendo de volta tudo que perdi
tudo que o tempo me roubou...
Quero de volta mesmo que não mereça, mesmo que não precise,
quero acumular-me em mim, pra me refazer, me reconhecer.

Envelhecendo no processo de compreender-me à fundo
vou a todo segundo redescobrindo-me e desaparecendo
pra depois de tudo abraçar a morte e viver-me
deixando que meu crepúsculo encante a aurora do dia seguinte.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Emergências e Mergulhos

Meu corpo pede socorro:
-É realidade demais!!!!
Preciso então de um mergulho,
saliva na boca dos sonhos emergência de viver
em outro plano, outra estância...
Na errância dos caminhos, um gole de vinho,
um momento na fresta do existir, entrega!!
Palavras distorcidas, brisas sopradas pelo lábio ancestral
um ritual de despejo,
deixar a alma sentir o prazer do pensar,
deixar o pensar sublimar ao toque da alma,
deixar a calma se misturar com a euforia,
pedir auforria pra razão
para que assim então os significados possam tornar-se maiores.
Lavando de um todo as veias fechadas
com a enchurrada do sangue que dilata sem pedir licença
a arte combustiva emana dos poros
em melodias, letras, filosofias, imagens e confusões
seiva maldita, suor que constroi um mar
onde eu sempre contra a corrente emerjo
e renovado volto à sobrevivência.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Negro Guerra

Negro guerra,
entre o céu e a terra,
na luta na espera de um levante popular...
Negro guerra,
entre Zumbi e os Pantera,
entre a favela e os sem terra, construindo, resistindo...
Negro Bantú,
entre o candomblé e o voodoo,
resgatando minhas raízes minha ancestralidade demonizada.
Me pergunto: -O filho "deles" qué sê preto?
Em que circunstância? Por quanto tempo?
Enquanto a moda durá? Com certeza nunca 24 horas por dia...
Mas e os nossos filhos?
Negros por consequência e brancos por consciência,
nossas meninas, lindas negras querendo ser a xuxa.
Não!! Assim num dá!
Não quero loira, nem negra burra.
Quero meu povo podendo pensá,
quero andá de cabeça erguida
e não com um carro de teto solar,
quero cachaça de alambique e não champgne pro ar...
Negro Drama? Não, isso não!
Dramática é a vida do cara pálida capitalista
que acumula riquesa a nossas custas,
mas não preenche o vazio do existir.
Dramática é a falta de humanidade
dos capitães do mato da atualidade
que escondem atrás da farda a pele tão preta quanto a minha.
Dramática Brown, é a consciência individualista,
a idéia de sucesso classista que cria mitos e não parceiros,
o estilo de vida imperialista, a postura de revista
que reafirma o padrão norte americano
o engano consumista.
Dramático é perâmbular pela casa com insônia,
enquanto mulheres de nossa quebrada
sonham em brilhar como antonias!!

terça-feira, 23 de setembro de 2008

sEgrEDoS PúBLiCOs

Gostaria de ti ter me despedindo,
de me juntar ti separando, de me calar ti falando...

Gostaria de ti elucidar me ensandecendo,
de ti ensinar me confundindo, de me amar ti sangrando...

Gostaria de ti emancipar me acorrentando,
de me escravizar ti libertando, de ti viver me morrendo...

Gostaria de ti ensaiar me apresentando,
de me jogar ti buscando, de me parar ti acelerando...

Gostaria de me fuder ti tranquilizando,
de me querer ti fugindo, de me pulverizar ti aglomerando...

Gostaria de me poder ti enfraquecendo,
de me sentir ti tocando, de ti decifrar me despedaçando...

Gostaria de ti...

Gostaria de mim se não fosse eu!

Um pedaço de história

Uma folha em branco contém nossa história, não há o que esquecer por que não há nada escrito, viver é o que temos,
sentir é o que temos,
com sinceridade com a liberdade
que se descreve na fruição do termo.
Balela aquela idéia que a nossa liberdade começa aonde a do outro termina,
a liberdade começa aonde a do outro começa,
e meu caminho agora é o mesmo, o mesmo caminho incerto,
o caminho inseguro e belo das possibilidades.
Mas saiba não te esquecerei, por que se a folha está em branco é pra não deixar pistas, meu coração é como árvore de praça, carrega talhado no tronco
a essência das paixões vividas...

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

SECURA

Nos lagos congelados da Rússia a água falta,
nos solos rachados dos sertões brasileiros a água falta,
nas torneiras das metrópolis Norte Americanas a água falta,
na margem dos rios africanos a água falta.
A secura resseca os lábios do mundo, a alma do homem.
O peito respira o medo, perdido na poeira do tempo,
olhos úmidos, vida dura de da dó
me resgata a prosa impura do caicó.
O pássaro negro é a atmos-fera
que faz voltas aspirais sobre os homens,
de tocaia espera o momento de devorar o que sobrou...
Mas o que sobrou?
O que essa antinatureza de pobreza corpórea, de espectro simplória,
deixará à qualquer carniceiro do futuro? À seus filhos?
Uma letra no muro despedaçado das lamentações...
O QUE FIZEMOS DE NÓS?!!!

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Os guerrilheiros da sé

Eu sobrevivi a noite dos malditos
de forma magistral
Descarreguei o peso do ano
lavando a alma com destilados e carburantes

me esquecendo e relembrando a cada instante
o gosto de algo novo,
mas já experimentado antes

aqueles como eu, os desgraçados!!
Aqueles que param o tempo e reinventam a felicidade
aqueles que ainda hoje arriscam um olhar sincero,
que ainda hoje abraçam sem medo
o corpo e o desespero...

Estes estão lá, como sempre
como já era previsto o imprevisível reencontro
com o passado ainda vivo.

O monstro do relógio não nos deterá!!

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Banho Maria



Banha-te mulher, banha-te!
quero ver te embebida nas caudalosas águas abissais da liberdade.
Onde mentalidade moral nenhuma pode algemar-te.
Vai Maria sem medo, deixa que em liquefeito estado a vida flua
deixa Maria que só a lua te observe de cima,
que só teus pés testemunhem seu caminho
Banha-te Maria, no vinho da emancipação e na cachaça do cotidiano.
De-me Maria, o prazer de estar nos teus planos
por tempo determinado e na eternidade das sensações
quero te ver em fúria lutando com as armas que tem,
voando com asas próprias...
Mulher, quero-te tranquila quando solta,
quando com sua mentalidade sagás
em banho Maria envolta
siga pra onde a paz sempre existiu,
pra onde a guerra É AMOR!

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Virtualidade Real

Nos undergrounds mentais residem
a força e a inteligência miserável
que me constituem como ser.

Me esforço para acreditar na sapiência mendiga
que me aprova o existir.

Caminhando na noite tateando a realidade,
o perfume do asfalto, os pensares fugidios...
Os cães vadios que guardam meu instinto
instigam sensações que eu deveria
manter longe da reflexão.

Mas ouso a mistura, impura e lírica,
dos lixões da quebrada às fadas da lua.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Enquanto isso na cama...

Tragado, eu, cigarro em sua boca...espero o bafejar da fumaça que me dissipará na atmosfera perfumada de nosso amor!!!

...


segunda-feira, 21 de julho de 2008

Já era...

Ia explodir, e por ser passado não o fiz
Ia ser feliz, e por não ser não o fui
Ia te amar, e por não ter não amei
Ia e ia e não, sei lá, talvez, sempre!!
Ia ser livre, mas a prisão era maior que a liberdade
De tanto não ser, resolvi me ter, pra mim
na amplitude do caos que sou...

segunda-feira, 14 de julho de 2008

A terra de Ciço

Ciço chegou em casa aquele dia com a olhos vermelhos,
de tanta raiva. Em sua mão as marcas, em sua roupa impregnado
o cheiro da tinta impossibilitava esconder de sua mãe o acontecido.
Havéra se envolvido em briga mais uma vez e mais uma vez sua mãe teria de ir à escola, explicar que o garoto é meio complicado, que esta se adaptando ao cotidiano da cidade grande, que isso não ia mais acontecer.
Haveria de ouvir mais uma vez dos lábios cansados de sua velha mãe:
"-Meu fio não fais mais isso, foi uma bataia conseguí essa vaga procê se eu não désse a sorte de fazê fachina na casa da inspetora, ocê taria na fila de espera inté agora, me ajuda..."
Ficaria com remorso e com raiva ao mesmo tempo. No fundo o que Ciço queria mesmo é não ter que ir pra escola, nunca mais, queria ficar observando as formigas andando em fila no tronco do pé de amora, queria ficar jogando bola na rua, descalço no chão de terra batida, a poeira seca e o bafo quente do chão, que é a única coisa do bairro novo que lembra o lugar onde morava, sente falta do lugar onde o nome Ciço é bonito é reverência ao santo padroeiro de sua cidade, nome dado por seu pai que ainda estava lá, esperando a vida melhorar pra buscar a família. Não teria arrumado "treta" como dizem aqui, se as outras crianças como ele respeitassem seu nome, mas agora já foi.
Na hora que o Otávio com tom debochado disse no meio da aula de artes: -Ciço? Isso é nome de gente? E ainda por cima riu, gerando uma onda de gargalhadas, até a Júlia sorriu tentou disfarçar mais riu. Na hora ele não pensou duas vezes, a professora até tentou interromper o furdunço, mas já era tarde, Ciço jogou a tinta na cara do Ótavio que veio feito uma maluco pra cima dele, separaram antes de qualquer troca de socos, e a professora por mais que entendesse Ciço, teve que levá-lo também pra sala da diretora. Aí já viu, explicações e explicações que resultam sempre em penalidade pra todos envolvidos, sem critérios de justiça, sem nada...Pensava não merecer suspensão, mas de pensar morreu um boi e de onde Ciço vem boi morto é sinal de perigo e pra que não carecesse de passar necessidade decidiu não mais pensar, aí a estranheza da situação, pois se a escola serve pra fazer pensar, por que ir pro abatedouro?
Queria ser invisível pra entrar em casa e não ser visto pela mãe, mas talvez fosse pior ela ia achar que ele tinha sumido, ia ficar triste, não!! Isso não pode, não ia deixar ela triste mais uma vez, pensou em voltar à escola, pedir desculpa pro Otávio, pra professora, pra todo mundo, engolir o orgulho e pedir que esquecessem o fato...pensou bem...e percebeu que isso seria um sonho, não daria certo, a diretora não cancelaria a suspensão, assim sendo, ergueu a cabeça e rumou pra sala onde encontrava-se a mãe, ela teria de entender, todos podiam não entende-lo, porém ele sabia, ela entenderia, ficaria um pouco chateada, mas entenderia.
Chegou na sala, sua mãe de costas assistia Tv, foi aproximando-se devagar e antes de chamá-la fez uma promessa pra si mesmo, se ela não ficasse triste estudaria muito pra ser um grande artista como sua professora, enfim tocou o ombro dela que virou-se pra ele com um grande sorriso e antes que pudesse ele falar qualquer coisa disse: -Vamô voltá pra nossa terra fio!!! Vamô voltá, seu pai arrumô um Siviço na fábrica de algodão e agente não vai mais precisá fica em Sum Paulo...
Um abraço forte e os olhos de Ciço brilharam, em sua cabeça agora só a imaginação dos quadros que pintaria vendo as paisagens do seu lugar e as lembrança dos cabelos de Júlia, o pátio do colégio, o pé de amora...A cidade ficaria pra traz, mas na memória levaria beleza e não brigas.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Chocolate, meio, amargo...

No caminho de desencontros que seguimos,
nossas sombras vivem se esbarrando.
Meio caminho certo seria o suficiente pra dar de cara contigo,
num abrigo seguro e sem luz,
onde só nossos olhos iluminem o momento,
onde nossas sombras encontrem-se impossibilitadas de se tocar,
mas nossos corpos, livres,
entreguem-se por inteiro a nossa paixão velada
Sinto minh'alma transbordando
a cada instante de proximidade.
Meio lábio sela a despedida
e a noite demora mais pra passar.
Meia noite nossa,
noite que traz o sonho
único lugar onde juntos podemos estar
no meio da rua
num abraço incandecente pela eternidade.
Ohhh negra...
Um dia me livro das amarras morais, da falta de corajem
e te pego de frente, no meio do mundo,
nem que seja pra te dar um último beijo
e te guardar no meio de mim...

Conto de foda

-Mamãe, mamãe!!! O que é FODA?
-Por que a pergunta minha filha?
-Eu ouvi na música do MC Cabrero: "Chega mais tigrona, cola aí querida, vou te dar a melhor foda que já viu na sua vida". É um presente mamãe?
-Pode sê filha, se for dada com carinho, com amor pode sê...
-E como é?
-É do jeito que você quisé e do jeito que a outra pessoa gostá, o importante é tá seguro e se senti bem...
-Que coisa estranha, explica melhó?
-Um abraço pode sê foda filha, um beijo pode sê foda, andá de bicicleta pode sê foda...Depende só de gostá muito de quem te presenteia.
-Nossa o MC Cabrero devia gostá bastante da moça que ele fez a música né mãe?! Ele fala que qué dá pra ela a melhó foda da vida dela...
-É filha, mas você só tem 7 ano é melhó você só dançá a música, sem querer sabê tanto da letra, dançá com bastante diversão, dançá de brincadeira, como quem brinca de boneca, solta pipa, roda pião, só dançá filha, só dançá...
- Tá bom mãe, pode deixá eu só vô dá foda pra quem eu achá que realmente merece...

A noite que você me deu

Sei...lá onde moram as estrelas há agora um pequeno vazio.
Lá onde o tempo esqueceusse de existir, alguém agarrado nos meus sonhos caiu
e onde seu corpo tocou a terra a vida emergiu desesperada, como resgatada de um afogamento.
E fez florecer jardins em desertos, coloriu em carmim a realidade cimentada, num beijo inflamou a alma e entregou em paixão toda a compreenssão do mundo.
Num segundo transformou a calmaria do ser em turbulenta e libertina necessidade de ti.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Quando me vêem (sempre uma construção)

Minha imagem hirsuta, como pedra bruta, ora insulta, ora engrandece a pluralidade do ser.
Eu, mundano: proveniente do mundo, um acidente, um segundo na efervescência do caos...
sigo concentrado e sincero como um monge, alucinado e entregue como Dionísio em bródios.
Uma contradição dialética que perâmbula pelas mudanças
como quem dança uma valsa num tiroteio.
Espero dos seus olhos apenas o fitar perplexo que funde amor e ódio
numa eterna alvorada sensorial.

terça-feira, 24 de junho de 2008

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Uma crônica em estado crônico

Ponto de ônibus lotado, quase sete da noite, procuro um lugar pra me encostar, esperar a lata de sardinha menos cheia é a meta. Escuto ao lado o lamento angustiado de um pai ao celular, provavelmente falava com a mãe da criança que estava no seu colo: -Já tô chegando!!Já tô chegando, tá impossível entrar no ônibus, ainda mais com a Julia, você quer que eu mate a coitada espremida dentro do busão?! Não vou sequestrar a menina não, só não tô conseguindo chegar - Deviam ser pais separados e nesse relato talvez a única coisa separada.
Praticamente rebaixado chega o COLETIVO (com o tanto de gente dentro diariamente é até retundante ter esse nome, lotação então é uma hipérbole) uma mulher começa a gritar lá dentro: - Aiiiiiiii, Aiiiiiiiiiii, me solta, deixa eu passar, cusão!!! - Toma um soco na nuca enquanto desce- Aiiiiiiiiii, filho da puta!!!! - Uma voz masculina acompanhada por outras vozes que não consegui distinguir na confusão diz: - Vai vadia, vai dá pra quem tem tempo!!! resolve ir pra porta só na hora de decê depois acha que pode empurrar todo mundo, piranha!! - O cara que disse isso não sabia que ela vinha tentando chegar à porta a uns três pontos atrás - Com os olhos rasos d`agua ela saiu pisando duro e esbravejando. O motorista desta vez nem abriu a porta pra subida de novos passageiros só expurgou um fragmento do caos, mas logo atrás vinha um menos esperto que além de parar bruscamente e ouvir do coro que o cercava: - Tá carregando boi porra! - Ainda abriu a porta pra uma multidão que empacou a viajem por uns 15 minutos, como as pessoas entraram lá dentro eu não sei, se pá mágica sei lá. As vezes penso que aquela lei da física de que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço não existe dentro do ônibus.
O desespero começa a bater quando me imagino dentro daquele inferno, voltar pro trabalho? Não, lá é outro inferno apenas um pouco mais espaçoso. Penso em ficar no ponto até tudo acalmar, mas me lembro que isso pode demorar demais, à ponto de valer a pena dormir aqui no ponto só pra passar as horinhas que faltaram, amanhã é dia de branco (todo dia é, de negro é que não chega) e mais um pau de arara vomitando gente me trará de volta pra esse mesmo lugar.
Meu ônibus aponta na curva, fico apreencivo, o povo começa a se deslocar tentando adivinhar onde o ônibus parará, me lanço na massa, o ônibus para, próximo de mim, que sorte, grande bosta sei que a mesma sorte não me acompanhará lá dentro, nesse momento é que penso em me agarrar a deus, àlias deve ser por isso que tem tanto religioso em quebrada, pois muvucado na porta conseguir um lugar pra entrar é coisa divina, o foda é que esse mesmo deus que pode me ajudar a anestesiar meus sentidos dentro de um triturador humano, não me deu asas pra ir voando pra casa, ao invés disso deu asas a passáros que nem trabalham em linhas de produção 12 horas por dia. Esqueço deus e vou tentando penetrar no ônibus, como um filho que tenta voltar para o útero materno 10 anos depois de seu nascimento. Tanto tempo nesta sina já aprendi uns massetes, vou empurrando levemente a passagem dando olhadas pra trás com cara de sonso e pedindo licença, desse jeito mesmo quando dói a pessoa entende, o importante é não perder a constância até a catraca, onde o gado tenta passar antes que o bilhete único trave a passagem, é uma coisa meio Magiver, você tem um minuto para passar seu bilhete independente da multidão que esteja impedindo a virada da roleta. Eu sou um passageiro que não desce muito longe do ponto de partida e isso dificulta ainda mais minha missão, pois posso passar do ponto de descida num piscar de olhos, então não brinco em serviço, podia caminhar até onde preciso, mas é uma distância meio ingrata tipo uns quatro Km e eu não sou nenhum atleta, não me alimento bem, não medito, não tempo tempo pra mim, só pro trabalho, enfim chego na catraca. Olho pro lado procurando da onde vem certos grunidos que ouso, vejo uma mãe tentando acalmar seu filho, tinha algum tipo de deficiência mental, o coitado estava extremamente inquieto, babava muito e emitia sons nada agradaveis, um velho ao lado do assento reclama da politica atual, outro na passagem tenta acordar o jovem que fingi dormir no assento preferencial, passo a catraca, me sinto mais aliviado, mas os rostos dos zumbis que me acompanham nesta viajem não me animam em nada. Alguém dá sinal, o motorista não percebe, então começa a gritaria e os socos na porta: Dei sinal caralho!! Tá cego?! - Me pergunto: Cego ele não deve estar, mas a beira da loucura talvez...
Motorista é uma das profissões mais ingratas que tem, não se pode errar quando trabalha-se com vidas humanas, ouve xingamentos diários e recebe pouco, o pior é que poucas vezes pércebe o potencial que teria para uma revolução, poderia parar a cidade se houvesse articulação e força, mas utopias à parte sigo, profissões ruins todos dentro desta barca devem ter, mesmo os mais realizados não podem ser felizes neste lugar.
Desço, fecham-se as portas do compactador de lixo, traço meu caminho pra casa pensando na vida como ela poderia ser se a doença que acomete o sistema de coisas não fosse crônica, penso:
-Minha vida vale R$2,30 !!!!

terça-feira, 10 de junho de 2008

Dos Odes...

Ode Anarcohedonico
Assim que se pode ver o vale além da montanha, um novo portal espera. Libertinos ares tomam minha existência pacífica, rodeiam minha cabeça as borboletas que pulverizam o horizonte.Não podeis esquecer minhas verdades, incrustam-se nas vielas pecaminosas de minh`alma essencialmente Anarcohedonica.

Ode a Pala
Sei que me encontra todo fim de rito, extravagante delito, acomete o estar benevolente e entrega em fúria de vermelho a visão do mundo, em cheiro, em tato, em sensação!!

Ode ao prazer
...É do abstrair, é do concreto, é do desejo sem distinção que sinto teu fulgor tomar-me as carnes em doces baladas de sensação. Do mínimo, do maximo, do complexo e do comum, emerges das circuntâncias e prolifera-se nas largas veredas do meu ser, pois vivo em ti e te conheço e por saber te encontrar é que me entrego até esvair-me!!

quinta-feira, 5 de junho de 2008

...

Ato fálico

Enquanto inebriada em sua vivacidade
sequer pensas em mim,
eu, extenuado ao sol do meio dia
curto atônito, o melancólico groove de frases distorcidas
composto sob medida
para o acalanto de minhas angústias...

Penso nas dores do mundo,
reflito sobre a falta de sentido,
sobre a falta de ciência...
Penso que em meio a minha demência
sua presença faz falta.

E a distância da realidade
fomentada pelas ondas sonoras da vitrola
remetem-me ao frescor de suas idéias,
a sensualidade de seu olhar.
Sinto leves arrepios
quando penso no contato febril
que teria minhas mãos sobre tua pele
percorrendo seu quadril.

Eu com minhas algemas
permito-me ao delírio de projetar em ti
a figura sublime que me levaria
por libidinosos caminhos de liberdade e prazer.

Porém, sou repentinamente emergido do sonho
por um risco no vinil,
que distraindo minha atenção repetia renitentemente:
"...seus lábios são labirintos, labirintos, labirintos..."
Fez assim emudecer as últimas palavras
que praticamente caíam de minha fala,
mas que tragadas em devaneio abrupto
não passam agora de memórias de um filosofalo.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Materna

Amor é clichê,
quando a questão é descrever você,
descrever-te é pecado, mas não sou cristão
e a audácia é minha marca,
minha forma de não derreter diante à majestade
de sua beleza, deusa...
que transcende e moldura
a generosidade do afeto criador
perante a criatura

quarta-feira, 7 de maio de 2008

O peso

Viver é uma dor...
nascer, crescer, morrer!
Conviver é uma dor...
Partilhar, amar, observar!

Dor: Componente elementar do "Humano".
Sacrifício, precipício, enguiço...

A dor é nosso eterno fardo.

E a maior luta que devemos
travar com o tempo,
é o direito ao descarrego
e ao conforto do peso!!

sexta-feira, 2 de maio de 2008

A morada dos excessos

Acúmulos nimbos, nuvens negras no pensar
edificam em meu pequeno mapa do tempo
uma dor monumental...

Uma só picada é caminho visível
em meio a tensa paisagem desértica,
o momento onírico da destruição vertical
dos desprazeres intrínsecos e sociais,
fomentam na calada do dia a noite em mim.

O instante em que só o caos faz sentido,
em que só o medo é colírio,
é que vemos existir um ponto de fuga,
nos subterrâneos de Kafka,
nos abismos da percepção mergulhei...

E na vereda espectral do saber segui,
em busca da nitidez essencial
para meu caleidoscópio de sensações
e fui crescendo, tomando proporções
que talvez não deveria ter tomado.

A depressão que abre os olhos
trouxe à tona uma criatura
que não desfacela-se perante deus,
uma hiperbole, uma elipse atemporal
dos paradigmas que constituí.
Enigma latente de minha filosofia mortalha!!

A Contradição

...é sua, é minha, é tua, é tosca,
a contradição é nossa, é bossa, é uma bosta e é boa
pra nivelar nossas humanidades,
pra desconstruir meias verdades...

O contra diz quem são os peixes
no revestrez da correnteza.
Vale à pena dizer sim e não!!
É a reciclagem ressaltando nossa beleza
humana e errada.

Mas cuidado!!
O contraditório em demasia
tem a mesma característica
de uma feijoada gerando asia.

É irracional, incoerante, faz mal, ou não?!!

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Feito outros pra um

À partir deste ponto já não cabe mais perguntar
"à que ponto chegamos?"
Mas vale entender no que nos transformamos
e daqui pro futuro pra onde vamos
Almejo tuas terras em bucólica temperança,
mas em nostálgica esperança apresenta-te pra mim
no fulgor cotidiano da rotina
jás nossa paixão putrefata
e agora sexo em qualquer estância é necrofilia
com pitadas do que fomos
e um bizarro prazer.
O que esperavamos não aconteceu
e feito outros pra um
vivemos enfermos adorando a criação
que é o que de mais belo já fizemos
e enquanto esperamos o retorno de vênus,
sonho com o dia em que nosso amor feito fênix
re-existirá.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Quem déra

Quem me déra um dia,
ter a rebeldia de um fã do rebeldes
ou a alegria de um trabalhador ao meio dia
na fila do bandeijão.

Quem déra viver a emoção de um domingo no Faustão
ou ainda ter a compaixão de quem é explorado
e se rende a migalha do patrão.

Quem me déra ter a liberdade de um escravo em auforria
e a determinação que guia
um fiel pra universal.

Quem me déra ser o galã do comercial
ou um jogador de futebol
ter uma modelo gostosa, um nike shox e um landal...

Quem me déra um dia,
depois de tanto não ser
morrer apoiado na guia
com a minha pobresa e a minha agônia!!

Qué pagá quanto?

...e o paga sapo pagava, pagava,
pagava até bem, mas já tava faltando sapo.
Ele babava, mas já tava faltando saco...

Ele falava muito
e era um papo que não rendia,
nem pro ego, nem pra massa,
nem filosofia, nem cachaça, era fraco...

e por não poder matar dragões engolia sapos.
Era chato e não percebia,
não sabia o que era e então sorria
falsamente de algo que só ele entendia.

Nada espontâneo ele fazia frases feitas,
seguia seitas, se benzia, no terreiro e na universal
Ouvia todo tido de música e dizia ser eclético,
não tinha opinião, ora, não tinha cérebro,
fazia cara de mal e exibia o corpo atlético.

Enfim, era tudo que eu não gostava
e eu ainda lhe ofereci esse poema,
não que isso seja algum problema,
não faço elogio,
mas pode parecer que pago sapo,
quando estou pagando o pato...

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Memorando

Vive em mim cada momento, mesmo inconsciente,
mesmo que somente na pele como cicatriz,
cada futebol na rua, cada beijo escondido, cada amor ferido.

O primeiro emprego, o primeiro acorde no violão,
o primeiro por do sol...
vive e só morrerá comigo.

Os amigos, os sonhos, as dores
são e foram elementos vitais
e no mais sou o que posso,
desde que acordei e
não pude mais ser criança.

Já não estavam ao meu lado
Gilberto, Jú, Bruno, Palitão...
O Tempo tratou de colocar
cada qual no seu caminho,

sem rancores só saudades
e por falar em saudades,
por que não escrever novas estórias?
Por que não usar a memória contra um futuro nostálgico e sem cor?

Precisamos urgentemente dividir nossas humanidades,
quero reviver vivendo de novo,
novas angústias, novas felicidades.
Faz falta na nossa falta o pedaço de bolo delicioso
que deixamos de comer juntos.

Agora tomo cerveja com quem ficou,
tomo banho de mar com quem resistiu ao tempo
e prefere lavar a alma ao lacrimejar os olhos.

Saiba tenho novas verdades, novos quereres,
mas ainda tenho muito do que fui,
apesar de saber que amanhã terei mudado,
por isso amigo, venha hoje!!!
E não se esqueça de trazer o passado...



dedico estas mal traçadas linhas à André Luis Pereira,
meu irmão, aquele que sempre resistirá ao tempo,
longa vida amigo!!

sexta-feira, 14 de março de 2008

Um pedido


Peço que queira com os olhos da fome,
com os olhos da dor, com os olhos da saudade,
com os olhos dos homens...

Peço que entre os olhos da corajem,
entre os olhos da lua, entre os olhos da rua
desenhe uma face...

Peço que morra com os olhos da alegria,
com os olhos do perdão, com os olhos do prazer,
com os olhos da agônia...

Peço por fim, que veja,
com os olhos, com as mãos,
com as orelhas, com o paladar...

Peço que sinta!!!
Com os olhos da alma,
e assim sendo, tenha calma pra ser cego...

Póstumo


Deixei que o sangue escoasse
e que aliviasse meu mal incomum,
segundos atrás juraria que a vida existia em mim
e que algo amenizaria.

Crenças, centeças, anomalias,
frutos de mesma cria
objetos pra adorar.

Almas comendo lavagem
entre sangue e pús,

um novo santo,
uma nova imagem aparece na cruz.

Apocalípticas forças
energias de sorte,
Qual será a cara da morte?

Tudos e Nadas

Tudo que me ouves nadas digos
Negros ricos, brancos mendigos,
bichos homens, Rolling Stones.

Escrotos amesmados com tudos,
espadas cegas, dedos ponteagudos.

Rimas, esgrimas, tudos jogados no espaço,
te faço, me escasso, mas nadas tenho.
Estou fora de todos, de tudos me empenho,
nadas passo, desdenho...

Reconfiguração de Mayacovisky

Na primeira alvorada eles se aproximam
e furam um de nossos olhos,
não falamos nada, afinal em terra de cego quem tem um olho é rei.

Na segunda manhã eles retornam
e nos furam outro olho,
enfim o rei perdeu a majestade,
mas pode ser bom ser cego como todos.

Até que um dia eles não contentes com nossa cegueira
nos dão olhos mecânicos, para vermos o mundo deles
e por que abrimos mão de nosso direito de ver,
vivemos a realidade deles
que é também a nossa.

Dias de Chuva

Há dias em que a chuva toca nossa pele
e há dias em que a nossa pele toca a chuva.

Há dias em que somos mão
e noutros somos luva.

É necessário ser inverno e ser verão
para se ser uma estação completa,
é necessário ser alvo
para entender a seta.

Ninguém é tão perfeito pra julgar o outro e reclamar,
considere: Quem está na chuva pode não se molhar...

quinta-feira, 13 de março de 2008

Beleza

Cama é qualque lugar para quem deita
e deitar é a coerência do corpo
quando o cansaço é vida.

Querendo o sonho
a vida se torna realidade,
mas na estância do esquecer

A memória é a fonte onde nada cresce, morre ou transcende.

No patamar do poder sentimentos não se destacam,
pois viver é compreender-se distante na alma do amante
que no presente se vai...vai...some...

E renasce no existir da eterna reciclagem

sexta-feira, 7 de março de 2008

Desculpa

...é pelo tanto que pesa
que acabo derramando em teu papel os meus excessos
Por uma vida inteira sendo só metade do que queria
é que me destruo

De saco cheio de pequenas amarras,
de pequenos defeitos, de pequenas mentiras,
suportando, suportando, me esquecendo

Cansado do pouco diálogo, do pouco respeito, do pouco...
Quase morto, quase louco, quase e mais quase

Sem graça, sem amor, sem querer
rodeado de valores pobres,
comprimido, oprimido, incompreendido,

Por culpa minha, por culpa dos outros,
por culpa de todos, desculpa!!!

Pelo pão e pelo sonho,
por tudo que podia ser e não sou,
pela distância, pela ausência, pela demência...

O rascunho duro é o que tenho,
nem gravura, nem desenho, nem eu, nem você,
assim inacabado, dispersso, espesso,ancioso e sensível

um pecado possível repetido inumeras vezes,
tão errado quanto mudo, tão irado quanto cego,
confuso

Muito

Sua pele,
a fumaça do busão
Nossa tormenta diária,
o motor da lavadora
Meu amor,
uma construção abandonada
Seu sexo,
a árvore
Nossa cria,
um avião
Minha angústia,
o espancamento público
Seu desejo,
uma senhora
Nosso tempo,
um manifestante
Minha dor,
a televisão
Eu, você
só tudo isso...

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

O velho

Esse você, que tenho medo de mim
é a admiração e o descontentamento que gostaria de não carregar.

É o passado bonito que ainda é grito na garganta minha,
mas pra ti é conversa mansa e nostalgica que se dissipa na fumaça branda do fogão à lenha.

Onde está a chama?Onde estão as canções?
A poesia que ardia nas almas ao ser lançada? Onde?
Onde mora ao menos faísca da brasa viva
que animava motins e insitava revoluções?

Hoje vejo nos olhos cansados um brilho artificial
corroído por rotinas outrora condenadas por vocês.
As rugas do velho não murcharam somente a pele,
também a esperança e a luta foram engolidas no turbilhão das horas.

O que será que deu errado? O que fizemos de nós?
São questões que não ouso de ti, oH tempo!
Mas que sei permanecem no peito
agora arqueado pelo peso das costas...

Saiba que eu, sem obrigações com o passado,
tratarei de reescrever o conto,
reavivarei o fogo, pois sou semente maldita
germinada em outras primaveras,
testemunha ocular de outras eras

Cria de cafuso, mameluco portador da história oral
que não morre em mim,
ainda que meu fim seja o mesmo...

domingo, 10 de fevereiro de 2008

...se a vida fosse bela

Se a vida fosse bela não existiriam as pragas
e todas as fadas dançariam a mesma canção,

se a vida fosse bela não existiria prisão
e todos aqueles que errassem seriam merecedores do perdão.

Se a vida fosse bela não existiria guerra
e viveriamos de paz, sem conflitos poucos, demais...

se a vida fosse bela não viveriamos de ilusão,
pois se a vida fosse bela teria manual de instrução.

Saudade

É um pedaço de passado que não sai do seu presente...

...sem assunto

Tô, mas quem nunca esteve?
As vezes parece que tudo já foi dito, não?
Talvez, mas isso não esgota as possibilidades de apropriação, de reconfiguração...

Cada momento, cada era é única, é particular
e se não é novo é apenas uma forma épica de se falar do tema
acho que um bolo deixa de ser só um bolo se colocamos uma cereja.

Hoje quase não se vê nada diferente e atemporal,
o padrão nos engoliu, quase tudo é previsivel,
quase tudo tem formato já definido
antes mesmo de ser criado, de ser visível.

E até o quase pouco discute das novas perspectivas,
são palavras vivas pra gente quase morta,
são assuntos muito distantes das realidades populares tortas, tortas.

É preciso partir do outro,
é necessário viver pra todos
e isso significa disseminar o néctar do conhecimento ao vento dos homens...

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Ant'agônica

Nos simulacros onde escondem-se os porcos,
há fartura de alimento as custas de nosso suor.
A alma não está a venda,
mas ainda assim é comprada.

Agonizantes gritos de socorro
ecoam das coberturas dos apartamentos,
das cabeças de vento nada de novo
apenas a mesma satira do mesmo povo.

Enquanto isso
proliferam-se nas quebradas
Kamiquases da intelectualidade avessa,
mergulhando de cabeça num mundo sem perspectivas.

Nas derivas da sociedade injetando criatividade
onde reina o que é mediocre.

Cuidado Senhores!!
A vida é cheia de brechas
e nela eu tô solto na buraqueira.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Lua


Lua, bola cheia de vento,
fruta sem coração.
Lua, rajada de tempo,
vida sem ilusão...

Lua, dorme ao relento,
dona da escuridão.
Lua, minha vida de sempre,
deixe-me ser seu irmão...

Lua, tem gostinho de menta
ou será que é de limão?

De andada


Na sarjeta escorre a cana
que deixa o caranguejo urbano cair,
quem almeja a queda desconhece o abraço do solo?
Carbono papel social

faz-se a face visceral,
ele, o chão...
Outrora de pé, agora o lamento póstumo.
Lama, cama de pedra.

Quantos poemas são necessários para se escrever um livro...

Hein? Quantos?
Devo ter uns 30, mas ainda acho que é pouco.
Será que devo me dedicar mais? Será que devo plantar uma árvore antes? Fazer um filho?

Se um dia eu publicar um livro, será que ele será mesmo público?
Será que preciso entender de métrica ou saber o que é prosopopéia?
Acho que pra ser bom tem ser espontâneo.
Mas como escrever um livro espontaneamente?
Será que pra ser bom tem mesmo que ser grande? Com muitas páginas e sem ilustração?

E se gostarem de minha poesia terei de escrever sempre?
Terei de ganhar dinheiro com isso?
Será que vão aclamar minha escrita sem forma e sitar minhas frases nas salas de aula?

E se a árvore que plantei morrer?
E se meu filho nåo gostar de mim?
Terei que queimar meus livros já escritos e só escrever outro quando fizer outro filho e plantar outra árvore?

Ou será que estou divagando demais e nem minha mãe daqui a uns 10 anos lembrará que eu escrevia quando jovem?
Será que escreverei aquele livro que mofará na prateleira de uma biblioteca sem que ninguém o tenha lido?
É, talvez minha mãe leia ou meu melhor amigo,
mesmo que seja só pra dar um sorrizinho de canto de boca e dizer:
=Legal...rsrsrs

Penso que pode ser tudo isso
e pode não ser nada.
Pode ser que apenas nenhuma editora queira publicar?
E assim sendo eu tenha que fazer aqueles livrinhos caseiros que os cabeludos vendem em centros culturais.

Será que o falo em meus poemas fazem sentido?
Será que alguém se identificará com minhas angústias?
Se não também, QUE SE FODA, eu só escrevo pra aliviar as tensões que são minhas e são de direito!!
Será que vale a pena escrever um livro de tensões?
Que nome teria?
Ah!! Não sei...

Descarrego

Foi assim,
quando as luzes estouraram no céu
ensurdecendo a todos e espantando os seres que preferem a sombra.
Foi assim,
no tempo nada mudou ,
mas nós continuamos a esperar mais.
Foi assim,
como quando lavei minha alma
quando tudo que parecia ser calma voltou a me confundir.
Foi assim,
o novo chegou e eu já sabia que chegaria,
mas me surpreendi como em toda evolução.
E foi assim,
tirei a mochila das costas
e fui correndo dar um abraço no mar.