sábado, 24 de dezembro de 2011

Anti corpos

Ante ao corpo, saquei...
Sacripantas são os poetas que te atravessaram a vida,
pois fizeram dele avenida para os prazeres mesquinhos

Hoje pago a chaga, e tento feito louco arrancar-lhe os espinhos,
mas parece que nem prece nem vinho lhe curam as dores
nem meus excessos de amores abrem seus caminhos

Ante ao corpo fechado, anticorpos e abraços cruzados
credo na essência, crianças no pátio, corações partidos...
Ante o real, um cruzado novo e novos sentidos!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Conversando com o espelho

Olhando pro espelho pensou "Nosso amor está flácido!"
O espelho imóvel nada respondeu...
Numa análise mais aprofundada disse: Nosso amor envelheceu!
Olhando nos olhos o espelho refletiu:

O que esperava? Nada é eternamente a mesma coisa,
essa insistência adolescente em querer congelar as formas,
te impede de viver a beleza do novo momento, essa eterna nostalgia,
esse medo em ver as coisas passando por ti não te permite apreciar o tempo!

Louco de raiva com as palavras do espelho
ele o quebrou em estilhaços e teve sete anos de azar
seguiu assim até que um novo alguém o possibilitou amar.

E sete anos depois observou a ferrugem do espelho e constatou:
Nosso amor envelheceu de novo!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Elementos para uma filosofia do amor (parte 4)

"O amor que eu te tenho é um afeto tão novo,
que não deveria se chamar amor...
Poderia se chamar nuvem,
por que muda de formato a cada instante,
poderia se chamar tempo,
por que parece um filme que eu nunca assisti antes...
Poderia se chamar silêncio,
pois minha dor é calada e meu desejo é mudo,
poderia simplesmente não se chamar,
para não significar nada e dar sentido a tudo..."
(Paulinho Moska)


A idéia sobre o que é o amor vem sendo historicamente deturpada, pelos que armados com a razão tentam esquizofrênicamente construir um conceito concreto sobre algo tão subjetivo, tentam transformar num monólito o que é vento, e como todo bom vento vale mais sentir que explicar.
Ao meu ver existe uma ambigüidade essêncial em torno da idéia de amor, embasada em torno de 2 elementos fundamentais: A idéia de amor como construção e a idéia de amor como desconstrução. Na primeira lógica entende-se o amor como um estágio de um processo vivido por indivíduos irmanados por sentimentos de carinho e respeito e que por sua vez, decidem viver juntos. Já a outra idéia está mais ligada ao que se conhece por paixão, algo que nos tira a consciência, que nos faz rever conceitos, nos apresenta um mundo novo, nos envaidece e desconforta. É como se houvesse uma face Apolínica e outra dionizíaca congregadas numa mesma cabeça.
Entendendo esses conceitos como complementares e não opostos podemos ampliar as possibilidades de interpretação e de locação dessa idéia em nossas vidas. Pois nesse sentido amar torna-se um exercício involuntário, que torna nosso subconsciente inteligente. O que o desloca dos sentimentos tristes que se confundem com o mesmo, como o sentimento de propriedade, avareza e pequenez que circundam as novelas, os romances de auto ajuda. O amor é dolorido e belo, pois é o aprendizado da convivência com o desconhecido, é aprender a caminhar em nuvens, enfim, é a harmonização entre a construção e a desconstrução.
É por isso que a dificuldade de lidar com a história do outro é por muitas vezes um problema, por muitas vezes acabamos com possibilidades maravilhosas de vivênciar o amor com alguém, pois queremos negar que a pessoa teve outros amores antes de nós, queremos acumular o amor do outro em nós, sem perceber que isso seria impossivel, já que os seres humanos tem uma capacidade tão infinita de amar que não há corpo ou espirito que conseguiria reter todo amor que o outro pode proporcionar. O amor é a face de deus em nós, o amor é deus em si, e perante essa grandeza somos tudo e nada. Partilhamos a criação sem ter dimensão do tamanho. Pois o amor é uma constância que não pode ser dissolvida, que não pode ser mensurada. A dificuldade está em perceber que a violência é um pedido de socorro, e que a quietude é uma bomba relógio e tudo isso esta contido no amor.
Logo cada estória vivida com alguém é fundamental e inseparável, sem é claro, pressupor uma barreira que impede a vivência de novas relações, é sim um repertório que te permite desenvolver e praticar cada vez melhor o maior sentimento do mundo.

domingo, 4 de dezembro de 2011

D`efeito

Idiossincraticamente te imaginei descolada do mundo
um erro profundo profícuo ao desespero
com esmero te criei a meu gosto
e esquecendo que tinha sua própria história
acreditava edificar em seu concreto
um universo repleto de glória,
mas minhas novidades simplórias como um oásis
só revelavam as fases da minha vida pictórica
Ai então cansado de te fazer o que não era
libertei-te de mim, essa fera
e passei a admirar a beleza da imperfeição que nos banhava
e assim pude compreender a coisa que mais nos combinava
o defeito.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Sentido

Entre a carne e o osso existe um foço dividindo
os que sentem a morte e os que morrem sentindo
O coração bomba a verdade
e a mente segue mentindo
Em cada pessoa uma busca
em cada voz um caminho
sangue nas veias, um gole de vinho
Eu...
só sei que prefiro viver sonhando
que morrer dormindo

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Sônia

Sônia, pra ti queria ter escrito um romance de 200 páginas,
mas cai no sono e só me restou o HaiKai

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Deixe-me viver

Ei amigo...
Queria te lembrar que não estás só no mundo!
E que o mundo vai muito além do seu quintal...
Ei amigo...
Não tente me forçar a pensar como você,
isso não vai dar certo, queira estar perto,
queira trocar!
Sabe como é meu velho, meus ancestrais já foram colonizados
pelos Portugueses, catequizados pelos católicos, aculturados pelos norte americanos
e não vai ser agora que serei catequizado pelos socialistas.
Ei amigo, deixa disso...
Pare de querer me enquadrar na sua teoria, pare de achar que
em mim reside uma pessoa vazia.
Vai derramar em outro canto sua eucaristia.
Não adianta meu amigo, não vou estudar o seu sermão, seja ele católico ou pagão
Vou me dedicar a estudar o que quero, vou por aí partilhar meu berro e escutar
novos dizeres que tenham amizade na pele do texto.
Sabe amigo, cada qual no seu contexto, eu sigo sem pretensões de ganhar seguidores
quero parceiros pra dividir a humanidade o carinho e as dores
Por isso faço como lampião, ando com alpercatas quadradas,
pois mesmo que deixe marcas não deixo claro meu caminho
a trilha ao meu lado é uma escolha que não exige a cerca dos sensatos
na estrada que percorro a loucura é companheira e apenas o respeito é cobrado
tenho a coerência de estar errado, como todo humano,
mas também não me apoio no erro pra justificar a paralisia
Sabe amigo, não ser entusiasta da guerra não me faz dócil,
minha serenidade não me faz distante.
Cuidado com essa linha reta que segues, e deixe-me viver
meu caminho errante!

sábado, 29 de outubro de 2011

Do Cárcere

"A escrita é a prisão do pensamento
e a leitura a chave para liberdade!
A teoria em demasia é o cárcere do sentimento
e a experência o caminho da verdade!"

sábado, 8 de outubro de 2011

Cantos e (in)cantos

Eu já não canto como antes
alguns dizem que a voz melhorou
outros preferiam antes

aqui do meu canto percebo o tempo
e constato "perdi um tanto do encanto de outrora"
a vida me rendeu esse lamento,
as vezes doce, as vezes azedo

O medo, esse ganhou força,
o lombo também calejou,
mas hoje procuro levar menos porradas

O tempo me deu algumas coisas e tirou outras,
amigos, vitalidade, sabedoria, esperança, amores, sonhos...

Sou nostálgico com certas memórias
com outras o esquecimento é a melhor saída

Feridas? Tenho várias, mas sou grato pelo aprendizado
não me arrependo de nenhum abismo que me joguei,
Porém hoje já não quero despencar de altura alguma

Preservo alguns hábitos,
mesmo que neles se explicite a dor que carrego

(Sabe -se que hoje comer feijoada é uma festa,
mas num dado momento da história
foi a situação mais dolorida)

Eu sigo assim,
navegando dentro de mim, surfando meus carmas,
bebendo água em fontes turbo-lentes

Um sentimento ainda me inquieta:
Por que algumas coisas se esvaem tão ligeiras,
e outras perseveram todos os dias nos dando rasteira?

Espero que o caminho me leve a essa resposta
pelo menos essa...

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O Canto dos Rocans

Que ave é essa que paira sobre nós
trás nela a fúria incitada pelo algoz

Em sua ira vasculha a cidade
produto da insanidade
protegendo o que nem é seu

sua couraça trás a pena dos heróis
esconde à baixo o medo, a solidão atroz

Em seu olhar a força bruta do estado
o controle exagerado
reprimindo o cidadão

O canto dos rocans é tão bonito
é tão belo que eu nem acredito
que tratem-se de seres tão malditos

em suma o seu poder vem do seu grito

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Consumo


Com sumo
com mimo
o elixir do sonho
o insumo da vida
com um sumido
velho amigo
num ritual antigo
de consumir
sem ser consumido

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Hipocrisia

Hipocrisia é quando o discurso bonito tenta
esquizofrênicamente maquiar a realidade feia!

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Noite

Da mesma maneira de sempre
ela com seu manto de estrelas e seu olho lunar
vem à mim, envolver-me com o delicioso perfume da loucura

mundo etério das vertigens libidinosas
éis a seiva da lingua das mariposas suícidas
ao redor das luminárias

Eu sou desses hipnotizados,
admirados ao ver sua energia calar a boca do sol
fico constrangido no dia seguinte,
mas nunca me canso de passar em claro a madrugada em sua companhia

Sou desses lobos de campina que atacam sob sua permissão
na surdina, sempre na surdina
Pois você é minha cumplice, minha verdadeira amante!

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Elementos para uma Filosofia do Amor (Parte 3)

Há quem diga que casamento é rotina, mas para fazer uma análise mais aprofundada deste apontamento temos que primeiro discutir o por que muitos de nós temos certa aversão a rotina. Por exemplo, ouvimos muitos dizeres em prol de um mundo mais justo, de um mundo mais feliz, mais pacífico, porém estes sentimentos são aliados disto que tanto tememos que é a estabilidade, que por sua vez é o combustível da primordial rotina. O que evidencia o primeiro ponto da contradição existente em torno desta questão, mas temos vários outros. O trabalho exploratório a qual boa parte da populaçãose submete rotineiramente sem cessar, a conformidade com a política, são rotinas que muitos aceitam e não parecem ter coragem para dar um basta. Mas o humano tem destas questões, extamente por que as palavras não dão conta de explicar a totalidade dos seres e assim sendo vamos sempre além das frases que exprimimos. Quando se decide viver com alguém e considera-se que ela parte destas caracteristicas humanas sobrepomos o discurso de rotina. Pois entende-se que a pessoa que vive contigo e você mesmo não estão fadados a vida programada dos romances novelescos. A vida conjugal é exatamente o contrário da rotina, pois é a experimentação das sensasões e mudanças do outro e vice-versa. É o aprender a lidar com situações que você nunca aprenderia na vida de solteiro. E o que é mais interessante, ser solteiro é uma constante na vida de qualquer um, mas unir-se à alguém é uma escolha, logo um mergulho no desconhecido. Ser solteiro por vezes é muito mais rotineiro do que o contrário, Bebidas, festas amigos, escola e trabalho, e volta tudo novamente, mesmo de forma diferente. Mas a grande questão aqui é lembrar que rotina não é um problema mesmo nos casos sitados tudo depende do caminho à se seguir, um estágio que por vezes todos passamos quando buscamos um pouco mais de estabilidade na vida. O bom é poder fazer escolhas consciêntes e respeitar o momento que cada pessoa está inserida na espiral do tempo.

domingo, 3 de julho de 2011

Estrelas


"Aos olhos das estrelas nós, meros mortais,
nada somos, por mais bela que seja nossa existência.
Porém esquece-se a própria estrela
que ela mesma não passa da memória de uma luz
apagada há milhares de anos"

O futuro

"O futuro é como o vento, vem de algum lugar distante
arrefece nossa vida e segue pra outro canto.
Muitos dirão que viveram em seu tempo
mas ninguém nunca viu seu rosto
Pois quando ele passa só nos deixa o gosto"

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Quando nasceram...

Quando nasceram pra mim João e Flora, nasceram em mim flores e auroras, me nasci no nascimento dos dois. Ouso até dizer que talvez nunca tenha vivido antes deles.
Mesmo em tempo diferentes, em dias diferentes, chegaram com aromas e cores leves, me tiraram o mundo das costas, me mostraram um caminho novo. Simples e gostoso de caminhar. Digo que talvez nunca tenha vivido antes deles, pois talvez não tenha conhecido nada que me desse mais sentido pra perenizar a existência.

Quando mais moço cheguei em minha mãe certa vez e disse: "Eu nunca quero ter filhos!!! Filhos pra que? Colocar gente nesse mundo pra sofrer..." Ela serena e com certo tom irônico respondeu: "É uma pena, você vai perder a oportunidade de vivênciar uma das experiências mais belas da vida!"
Malditas e sagradas palavras! Coisas que só a boca das mães podem profetizar. Eu fiquei mudo naquele instante, fiquei com certo eco daquelas palavras por anos, até que a compreenssão me veio no dia 14 de julho de 2007, pra ser mais exato às 11:54 da manhã, depois de uma madrugada fria no corredor de entrada da Santa Casa de Sto Amaro. Briguei a noite inteira pra ter notícias e pra saber a hora exata do parto, e derepente a iluminação me veio. Não queria perder aquele momento. Acho que nove meses vendo a barriga crescer, cantando músicas, escrevendo poemas, fazendo carinhos e contando histórias, não foram o suficiente pra minha ficha cair, eu seria pai e por mais óbvio que parecesse, não era nada óbvio.
Cansado de perguntar e não ter retorno, subi as escada como quem já soubesse o caminho, diretamente para umas das entradas da obstetrícia e lá já na porta a enfermeira disse: "você é o acompanhante da Ivaloo? Veio assistir o parto né?" Eu um tanto quanto atônito respondi apenas sim e já fui encaminhado para um banheiro com um kit especial de higiene para tais momentos, tocas, calças, camisas e forração para os sapatos. Fui então para a sala de parto. No caminho gritos e respirações fortes, somadas a choros de diversos tipos de diversas mulheres diferentes. Cheguei à ela. Estava irreconhecível, parecia uma leoa amarrada, gritava, xingava as enfermeiras, chorava e respirava como se trouxesse pros pulmões todo ar do universo. Minhas pernas nesse momento começaram a tremer. Fui em direção a ela e segurei sua mão, a única coisa que consegui balbuciar foi: "Calma, eu tõ aqui com você". Mas minha alma parecia querer sair do corpo, fiquei meio tonto repentinamente e minha vista começou a escurecer, pensei: "vou desmaiar". Mas num subito de força me voltei pra ela com tanta dor e me concentrei: "Não vou desmaiar! Não vou desmaiar!". E de fato eu não desmaiei fiquei firme por ela até o nascimento do joão. Descobri duas coisas naquele momento. Uma que eu tenho uma força mental que eu mesmo não conhecia. Segundo que de fato agora eu era pai.
A Iva estava muito frágil e incrivelmente cansada, mas a feição mudou totalmente quando o chorinho sangrado de joão indicou o nascimento. As enfermeiras colocaram ele sobre a barriga dela e um abraço trancedental selou o amor eterno.

Porém os procedimentos e a lógica industrial dos hospitais públicos interrompeu a poesia. Levaram o João para a limpeza e eu fiquei divido, fico com ela ou vou atrás da crinça? Fiquei um pouco com ela e pude fazer coro contrário as brutalidades das "enfermeiras" que fizeram o parto: "Não queremos bisturi, vai com calma, cuidado!" Tudo aquilo que você espera não ter que dizer pra uma profissional da saúde, mas a realidade é essa. Quando as coisas acalmaram fui ver o João, que por sua vez ainda passava pelo procedimento de limpeza. Quando deitaram ele na balança eu cheguei bem perto do rosto dele e vi seu olhos se abrindo pela primeira vez. Fui a primeira imagem que seus olhos recém chegados à luz puderam ver. Nesse momento foram os meus olhos que viveram o inesperado. Lágrimas aos rios, fiquei ali ainda por alguns segundos conversando com ele até me convidarem à retirada com o desrespeito padrão. Mas nada me tirava a alegria do peito, eles estavam bem e logo sairiam dali.

A vida depois daqueles momentos nunca mais foi a mesma, por mil motivos. Pelas dificuldades da vida de casado, pela extrema dedicação à criança e a família, por uma realidade de fato diferente da que eu vivia antes. Mas também pelos sorrizos e primeiros passos, pelas músicas dançadas juntos, pelas manhãs de sol no parques, primeiras papinhas, primeiras palavras, primeiros abraços e beijos. Coisas que este texto não daria conta de descrever.

Assim o tempo foi passando, brigas, acertos e desacertos, situações que nos levaram ao crescimento. Ao fortalecimento disso que hoje é meio descartado, mas pra mim é fundamental "A família". Dentre as várias situações que me colocaram de frente com a realidade social que se passa ao ser pai uma das mais simbólicas e fortalecedoras foi a creche. Lugar que o João conheceu bem cedo. É claro que não por que queríamos, mas por força das circuntâncias. Afinal é filho de pais trabalhadores que não podiam se dar ao luxo de ficar em casa só cuidando do seu desenvolvimento. Quando tinha 5 meses já teve de adentrar a vida escolar. Mundo que eu dei os primeiros passos com ele, pois trabalhava em casa nessa época. E tinha uma flexibilidade de horário diferente da mãe dele. Logo fui eu que fiquei com ele no desmame, periodo terrível. A adaptação ao bico da mamadeira era complicadíssima. E joão chorava por horas e horas durante o dia. Eu tentava de tudo, e quando não tinha mais o que fazer chorava com ele.

Toda Creche tem um tal período de adaptação por norma do governo, e nesse período os reponsáveis devem ficar com as crianças meio período até que estejam preparadas para a realidade do período integral, coisa que eu concordei de cara, entendia a importância disso para a criança. E assim sendo fui com ele para mais essa guerra.

Lá me deparei com um dado extremamente expressivo. Eu era o único pai a fazer esse acompanhamento em uma escola com 200 crianças mais ou menos. Fiquei estarrecido e mais ainda pelos discursos: "Por que sua mulher não veio?". Ali se mostrava a cara disso que a sociedade dos pós modernos tenta fingir que não existe. O machismo é real. E está em todos, inclusive em mim. Apesar da luta pra nadar contra a maré.

Eu por sorte do destino tive mulheres de muita fibra cuidando de minha formação o que me abriu os olhos às injustas posições ocupadas por homens e mulheres nesse sociedade, por isso de alguma forma eu sempre me senti responsável por uma educação diferenciada aos meus herdeiros. E três anos depois não por acaso, uma nova mulher entrou em nossa família. "Flora" foi quem me deu deu essa oportunidade.
Chegou pra coroar uma nova fase de nossas vidas, chegou tranquila e sem premeditações. Chegou no tempo dela e nos pegou de surpreza num sorvete no meio de um passeio no shopping: "A bolsa estourou!" disse Ivaloo, mas muito calma como é, já logo emendou: "Ah, ela vai esperar eu terminar de comer o bolo". Porém a serenidade foi interrompida por um turbilhão de emoções depois que uma vendedora ouviu que a bolsa tinha estourado: "Nossa! Vamos chamar a segurança, bombeiro, médico!" e foi uma loucura, todos vieram ao mesmo tempo, eu também muito calmo fui ao caixa saquei dinheiro e esperei o táxi.
No hospital Flora chegou tão rapidamente que nem deu tempo de me deixar assisti-la nascer como fiz com o João. Mas veio com saúde e a mãe também ficou bem.

Hoje, 5 meses depois de seu nascimento, vivemos os quatro no nosso cantinho em Taboão da Serra. As vezes rimos juntos, as vezes brigamos juntos, mas sempre terminamos à noite os quatro emaranhados na cama de casal. com a certeza de que nos amamos e o caminho é só esse. Todo dia nascendo pras novidades que o tempo trás.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Nostálgico

Quando escuto uma canção que cantamos juntos
quando o vento tráz poesia no cheiro
quando o silêncio nos remete aquele tempo mágico
eu fico assim meio nostálgico

Quando a memória tenta lembrar o por que daquela briga
quando percebo que hoje já não faz mais sentido
quando o peito reclama a falta dos amigos
quando a solidão nos remete algo trágico
eu fico assim um tanto quanto nostálgico

Quando vivo, me encontro vitorioso
refletido no espelho, dado fora da estatistica
quando sonho e a beleza vem naturalmente
ainda que a realidade dura
reclame a injustiça que se sente
eu fico bem e continuo a distribuir sementes

Mesmo tão nostálgico, eu sei
não parei no tempo!

Reinvento a saudade e me alimento no presente.
Com os sabores de outrora construo as boas novas do caminho
Como um velho vinho
que só tende a melhorar com o passar dos anos.


Para os velhos amigos que o tempo afastou:
Palitão, Gilberto, Juliana Félix, Daiana, Cavalo,
Paulo, Orlando e Thiago (falecido).

ainda estamos juntos

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Novos tempos


À cima de tudo novos ares,
com passos firmes vejo o objetivo próximo
o caminho nunca foi tão fácil
não há pesares

Posso olhar pra tráz como poucos podem,
porém sigo em frente
sem medo, sem rédeas
não me cabem as médias, as mediocridades,
as tragédias...

sabedoria nos passos,
sorrizo largo apesar do cansaço

A vida agora é amiga!

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Meu deus

Meu caminho foi por muito tempo negar a presença de Deus,
sem perceber que o mesmo andava em minha sombra,
pisando forte apontava ao norte da luz
a escuridão que eu precisava

Em cada beijo transcedental, onde minhalma bailava
lá estava ele, no sentimento voava
erigia sonhos onde a realidade crua se manifestava
me segurava a mão no ato sublime da criação

Neguei deus sem saber que cada olhar
que cada carinho, que cada pôr do sol guardava seu sorrizo
Neguei Deus pois não o via, até que um dia
me olhei no espelho.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Elementos para um filosofia do amor (parte 2)

A paixão como estágio anterior à solidificação do amor é um universo onde a realidade é catalizada apenas por energias positivas, O que aparentemente deveria ser bom, mas é preciso ter cuidado. Essa interpretação do mundo através dos óculos da paixão impede por muitas vezes a visualizaçµão da humanidade do parceiro, é como se o espelho que reflete as essências envolvidas na relação estivesse embaçado e desta forma as imperfeições que todos os seres carregam são soterradas por um universo fantasioso. O primeiro contato em quase todas as relações é superficial e sempre ligado a qualidades estéticas e de retórica. É a mesma sensação que sente uma pessoa que tem de dar um depoimento para uma câmera, ela não se mostra como é, mas sim como quer que a vejam. Uma espécie de maquiagem estantânea da personalidade. Não que isso seja um problema, a questão não é uma análise de julgamento, mas revela como nos relacionamos com nossas máscaras e pouco com os seres humanos por trás das aparências e o mais engraçado é que na maioria das vezes é isso mesmo que buscamos, pessoas fantasiosas para relações de mentira.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Das vestes do tempo

Memória, essa semente crioula incubada,
incucada, inconsciente...

Mais que razão, algo que se sente,
vida imaterial em solo fértil, abstrato,
substrato, imaginário vivo.

matéria prima do presente
escultura sócio-cultural,
capa que reveste o sonho
tecido único com o qual se fazem
as vestes do tempo

Querem nos deixar nus,
querem nos deixar nus!!!

domingo, 27 de março de 2011

Carnifício

Que deus perdoe a vontade viceral que tenho de morder a sua carne
Logo eu vegetariano do sexo, na espreita do açougue bordel.

Mas e o lugarzinho no céu?

como fica?

Como...

sexta-feira, 11 de março de 2011

Elementos para uma filosofia do amor (parte 1)


Casar é convidar alguém a ser um espectador diário da sua vida,
descobri esses dias que a palavra espectador vem do latin Especulum que significa espelho. Pude compreender então que casar é ter alguem cotidianamente te refletindo, te mostrando quem você é e vice e versa.
Acho que só descobri algumas partes de mim através da relação conjugal e assim sendo pude perceber que a maior questão no dia-a-dia da relação não é a convivência com o outro, mas sim com o que o outro revela de nós. Por muitas vezes nos negamos a estabelecer vinculos mais duradouros com quem amamos por conta do medo de desvendar quem realmente somos.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Mosaico

Dos cacos de amor
A tentativa esquizofrênica
De montar uma imagem.
No ideário são peças. mas de fato não às são

Quebra-cabeças da utopia
Retalhos de gente. estilhaço, agonia...
Miragem?

Te admiro da margem de minha imaginação
Te miro em pintura com a ponta do meu pincel

Penso em fazer um mosaico,
Mas pêgo em meu romântico
Ato prosaico,
desisto.

Mosaico só é belo pra quem vê de longe,
De perto ainda é caco, é risco.

Artista em euforia,
na eminência da obra que não correspondia
o sangue empenhado na construção,

Eu, pela primeira vez senti medo de criar

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Um dia de cada vez,
uma vez todo dia
ainda que sempre sangre
e que se espalhe em torrente agônia
prefiro as guerras,
guerras de poesia!

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Túnel do tempo


Hoje olhei na fresta do passado
e me vi lentamente derramando-me
pro que agora sou

sangrei vaidades, senti saudades, revivi alegrias...
reamarrei a lembrança na trouxa que carrego pelo mundo
resgatei quem fui por alguns segundos
e respirei ares bravios de tempos atrás

um aroma gostoso e pesado

logo meus pulmões de agora
me forçaram a voltar pro presente

Mas naqueles instantes eu pude
reacender uma lâmpada incandescente
que há muito vivia apagada nas veredas
do coração

um gosto antigo veio revisitar meu paladar,
antigas canções soaram em meus ouvidos
enquanto eu observava aquela velha fotografia