sexta-feira, 14 de março de 2008

Um pedido


Peço que queira com os olhos da fome,
com os olhos da dor, com os olhos da saudade,
com os olhos dos homens...

Peço que entre os olhos da corajem,
entre os olhos da lua, entre os olhos da rua
desenhe uma face...

Peço que morra com os olhos da alegria,
com os olhos do perdão, com os olhos do prazer,
com os olhos da agônia...

Peço por fim, que veja,
com os olhos, com as mãos,
com as orelhas, com o paladar...

Peço que sinta!!!
Com os olhos da alma,
e assim sendo, tenha calma pra ser cego...

Póstumo


Deixei que o sangue escoasse
e que aliviasse meu mal incomum,
segundos atrás juraria que a vida existia em mim
e que algo amenizaria.

Crenças, centeças, anomalias,
frutos de mesma cria
objetos pra adorar.

Almas comendo lavagem
entre sangue e pús,

um novo santo,
uma nova imagem aparece na cruz.

Apocalípticas forças
energias de sorte,
Qual será a cara da morte?

Tudos e Nadas

Tudo que me ouves nadas digos
Negros ricos, brancos mendigos,
bichos homens, Rolling Stones.

Escrotos amesmados com tudos,
espadas cegas, dedos ponteagudos.

Rimas, esgrimas, tudos jogados no espaço,
te faço, me escasso, mas nadas tenho.
Estou fora de todos, de tudos me empenho,
nadas passo, desdenho...

Reconfiguração de Mayacovisky

Na primeira alvorada eles se aproximam
e furam um de nossos olhos,
não falamos nada, afinal em terra de cego quem tem um olho é rei.

Na segunda manhã eles retornam
e nos furam outro olho,
enfim o rei perdeu a majestade,
mas pode ser bom ser cego como todos.

Até que um dia eles não contentes com nossa cegueira
nos dão olhos mecânicos, para vermos o mundo deles
e por que abrimos mão de nosso direito de ver,
vivemos a realidade deles
que é também a nossa.

Dias de Chuva

Há dias em que a chuva toca nossa pele
e há dias em que a nossa pele toca a chuva.

Há dias em que somos mão
e noutros somos luva.

É necessário ser inverno e ser verão
para se ser uma estação completa,
é necessário ser alvo
para entender a seta.

Ninguém é tão perfeito pra julgar o outro e reclamar,
considere: Quem está na chuva pode não se molhar...

quinta-feira, 13 de março de 2008

Beleza

Cama é qualque lugar para quem deita
e deitar é a coerência do corpo
quando o cansaço é vida.

Querendo o sonho
a vida se torna realidade,
mas na estância do esquecer

A memória é a fonte onde nada cresce, morre ou transcende.

No patamar do poder sentimentos não se destacam,
pois viver é compreender-se distante na alma do amante
que no presente se vai...vai...some...

E renasce no existir da eterna reciclagem

sexta-feira, 7 de março de 2008

Desculpa

...é pelo tanto que pesa
que acabo derramando em teu papel os meus excessos
Por uma vida inteira sendo só metade do que queria
é que me destruo

De saco cheio de pequenas amarras,
de pequenos defeitos, de pequenas mentiras,
suportando, suportando, me esquecendo

Cansado do pouco diálogo, do pouco respeito, do pouco...
Quase morto, quase louco, quase e mais quase

Sem graça, sem amor, sem querer
rodeado de valores pobres,
comprimido, oprimido, incompreendido,

Por culpa minha, por culpa dos outros,
por culpa de todos, desculpa!!!

Pelo pão e pelo sonho,
por tudo que podia ser e não sou,
pela distância, pela ausência, pela demência...

O rascunho duro é o que tenho,
nem gravura, nem desenho, nem eu, nem você,
assim inacabado, dispersso, espesso,ancioso e sensível

um pecado possível repetido inumeras vezes,
tão errado quanto mudo, tão irado quanto cego,
confuso

Muito

Sua pele,
a fumaça do busão
Nossa tormenta diária,
o motor da lavadora
Meu amor,
uma construção abandonada
Seu sexo,
a árvore
Nossa cria,
um avião
Minha angústia,
o espancamento público
Seu desejo,
uma senhora
Nosso tempo,
um manifestante
Minha dor,
a televisão
Eu, você
só tudo isso...