sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Passadiço

Nossa paixão começou no inverno,
numa praça no jd. primavera,
me lembro quando você me olhou com olhos de verão
Eu que era todo outono, comecei a verdejar ali...
Um tempo depois estávamos nós de novo
numa praça na Guarapiranga,
aliás essa bendita represa sempre esteve entre a gente
empossando vinho e ressentimento, frustrações e enganos!
Idas e vindas, e foi em outra praça que te dei meu melhor beijo,
lábio cansado e quente, nossos olhos marginais miravam viadutos
e prédios sujos do centro antigo, nos despedimos sem sexo.
Mas quase 10 anos depois no largo da batata calhou de acontecer outro beijo
amassos e lágrimas, justamente numa praça,
lembro das luzes entrecortadas pelos galhos das árvores,
lembro de sua calcinha molhada e do beijo seco, quase rude...
Eu fiz o que pude, mas em nossa vida tudo praça, quase nada fica!

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Paulistranhos

Não conheço meu vizinho
também não conheço meu pai
sou samurai onde Vênus vende Demillus
cortei meus pulsos
Joana os mamilos
intranquilo verto o caos
e conto as pedras no rim
observando da janela
a solidão entre os jasmins
as ruas seguem sujas
a sua paz o meu pantin
Já não consigo pensar
já não consigo sonhar
já não amo ninguém
dentro dos meus olhos existe um refém.
Brilho encarcerado atrás do cinza opaco.
Me sinto longe, me sinto fraco, me sinto cego.
Ferido ego inflado em retidão
todos estão envaidecidos de tristeza nessa cidade
todos seguem se enganando de tanta verdade
No barraco mais ao fundo no Cantinho do céu
ou na cobertura mais alta da praça Princesa Isabel
Eu sei que o sorriso é carregado de abandono
e não há trono que sustente a pompa de metrópole mais rica do país
SP sem CEP sem endereço pra ser feliz...
E não é que não exista amor sabe, não é que não exista a felicidade,
é que tudo tá sempre por um triz nesse lugar
é que tudo é sempre tão efêmero quanto um desenho de giz...
talvez seja assim também em qualquer outra cidade desse país
mas é que aqui parece que tudo se amplifica,
tudo se esvai, nada fica...
Acho que a urbe que nunca dorme
deve ser na verdade cidade dormitório do Brasil
no cortiço, na favela, na mansão, nada vinga... tudo vaga.
Esquece aonde cruza a Ipiranga com a av São João
e olha pra onde cruza a Cantidio com a estrada do Sabão.
Vê quantos nordestes dormindo em pé as 6h no busão.
Vê quanto amor esmagado...
é Sampa tocando no iphone
é a fome renascendo do cinza
são os diretos que perdemos
são os direitos que nunca tivemos
As gotas cristalinas da garoa
ressaltam a cárie obturada com estanho na boca fria do concreto.
Nublado em mim
céu aberto
Hoje eu to me sentindo meio estranho...
to me sentindo mais deserto.

Sul(destinos)

Na cozinha do hotel de luxo
Piauí rala o buxo fazendo de um tudo
e quem leva a fama é o Alemão chifrudo que da nome ao lugar
No Bar de um puteiro chic na Augusta,
Bahia serve um drink que custa um mês inteiro do seu salário.
Na obra em frente ao Jornal Diário
Pernambuco faz reboco em um prédio que tão poco um dia vai poder entrar.
Ceará comanda a casa do norte do Portuga,
com 30 anos já é cheio de ruga e mal tem onde morar,
enquanto o lusitano com 60 tem uma penca de dinheiro e nem imagina o que seja um Jabá
O Nordeste faz São Paulo
e São Paulo finge não saber seus nomes.
Encobertos atrás de salários de fome Raimundos, Aderaldos, Clemildas e Joanas
lutam pra sobreviver em uma cidade que teima em esconde-los!

Precisão


Eu preciso aprender a domar minha ansiedade
eu (in)preciso de tempo
Eu preciso aprender a calar minhas certezas
e beijar de língua a boca do vento
Queria precisar de deus
careço cuidar do espírito
Preciso olhar pra dentro
parar de pensar alto, investir no que acredito
Preciso menos de nós
e mais de eu
Careço paciência, foco, leveza...
e quem hoje em dia não precisa?
Padeço metas, esqueço datas, farejo contas
Quem precisa de sorte?
O relógio, o tédio, a morte!
Sonho com eles todo dia
a cidade e seu ritmo
me fazem preferir os jasmins
Necessito não mais precisar
queria não medir
Não chegar
Despreciso de mim

FeiceBruxo

Face a Feice, fez-se o ódio
face a feice, fez-se o tédio
uns buscam pódio, outros remédio
o muro das virtuais lamentações
é a barragem da enxurrada de informações,
é uma fake news entre o caos e as canções
Um abrigo seguro pros julgamentos
posição favorável aos apontamentos
Face a feice fez-se a foice
deceparam as distâncias,
aumentaram as ausências
e agora realidade nenhuma é mais real
Na tela o particular é universal
e o segredo é público.
Face a feice fez-se o fato
o face a face exige contato
e eu já nem faço questão
Face a feice me fiz pavão
pra esconder minha carência
e a amarga solidão
o sorriso fraco e um like de coração
face a feice todo mundo tem razão
o olho no olho é um presente
pra quem se faz presente além da rede,
além da redação
feice a face, fez-se a farsa
o vírus da sociedade líquida se alastra
Face a feice fez-se o vício
capturaram o poema
e esse é o principal indício