quinta-feira, 26 de julho de 2012

Oriundos

No banco de uma praça no Jardim Ângela, dois amigos discutem sobre a questão da periferia de uma forma bem incomum.

-Mano você já viajou na idéia de periferia?
-Acho que não entendi bem, discorra melhor sobre a questão?
-Pô caráio, tipo, sobre como o baguio tá sendo falado por aí hoje em dia?
-Sim, creio que esse fato se dê por conta da exploração do tema pela mídia.
-É, se pá é mesmo, é engraçado né? No jornal eles chamam a quebrada de comunidade... rsrsr... Mó brisa, nínguém aqui na vila fala comunidade!
-É, mas o Waltinho coordenador da associação de moradores também usa essa nomenclatura para se dirigir ao bairro para os estrangeiros e estudantes que aparecem por aqui vez ou outra, não é mesmo?
-Sim, mas pode se ligá que ele fala assim só pros gringos e pra esses muleque de faculdade mesmo, pros mano aqui da área ele num fala assim não. Nem mesmo pra outros mano de outros bairro. Ele sempre fala "quebrada".
-É isso me parece um dilema de linguagem. Pelo que pude compreender você se refere ao bairro, quando fala com os moradores do mesmo ou entre outros moradores de bairros desfavorecidos quanto este, como "quebrada". Porém se você for falar com alguma pessoa oriunda de um bairro abastado, um estrangeiro ou um repórter você utilizaria o termo "comunidade", isso procede?
-Sumêmo!
-Mas onde se utiliza o termo periferia?
-Em situação mais de reflexão tá ligado?
-Hum, interessante, isso nos leva a conclusão de que a utilização do termo "periferia" tem uma adequação mais coerente em contextos políticos. Me responda uma coisa, você vale-se dessa terminologia também em situações de auto afirmação?
-Orras, sempre que o fato de ser de quebrada me abre portas eu já logo sito "aqui é periferia porra!"
-Então também tem ligação com um conceito de identidade. Muito profunda essa reflexão hein?
-Vai se lascar! kkkk... acabou a brincadeira agora é minha vez de ser o intelectual.
-Uhahauha, pô mais foi boa a interpretação, falei até oriundos...kkkk, demais, vale oscar uma dessas hein?
-Pode crê, qual o tema da vez? Um mais difícil que periferia vai...
-Agente tá ficando bom nessas de domínio de linguagem hein?
-Profissionais! Com uma retórica dessas ninguém segura a gente!

terça-feira, 17 de julho de 2012

Nunca... Sempre!

A frase mais covarde que já ouvi na vida é "nunca diga nunca!".
Que merda de frase é essa?
E vocês já repararam que quem a diz sempre diz com um ar profético sugerindo que você se arrependerá do que disse?
Covardes! assim chamo os que temem o nunca, pois esses vivem da dúvida e nunca poderão experiênciar a força de uma certeza, ainda que essa certeza seja provisória, como são a maior parte das certezas.
O nunca sempre nos leva além, já que a recusa te impulsiona a traçar caminhos improváveis. E o caminho do nunca é o caminho da coragem, do enfrentamento do erro, da resistência, da autenticidade, da antineutralidade!
O medo de quem nega o nunca é a possibilidade de ter de se deparar com a dissolução da certeza no povir, o que só me faz pensar que esses que nunca dizem nunca, acham que a vida é imutável e que as posições assumidas são perpétuas. Como se o fato de dizer nunca te prendesse a eterna sustentação de um veredicto.
Porém, ao contrário do que pensam os covardes, o nunca é o pai do caos, e é nele que encontramos a possibilidade de bailar com as contradições da vida, sem que o sempre da dúvida te amarre as tortuosas estradas do equívoco e da incerteza.
Por isso eu sempre digo nunca, para que nunca me privem o direito a contradição!
E é bom lembrar que quem diz "nunca diga nunca", já está evocando duas vezes o bendito nunca!

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Pico

Drogar-se é se desprazerar-se com prazer!