quarta-feira, 18 de abril de 2007

Pântano


Foi nesse charco que cresci,
Ora terra, ora asfalto,ora felicidades, ora melâncolias...
As vezes políticos pra lamentar o esquecimento,
as vezes a vida e a expansão dos pensamentos.

Lamacento mesmo sem chuva,
o lugar é retrato de quem o vive.
Abandonado, simples, exâgerado,
forte e desorientado.

Balaio de gente teimosa
que se prolifera nas brechas do capital,
com fome de quem se auto devora se necessário o for,
com a ímpietude dos vermes em carcaça fresca.

Lugar de gente as vezes ignorantemente justa,
lugar de gente impossível e reservatório das frustrações
que servem de alimento mau alimentado
pra máquina do estado.

Moradia dos malabaristas do caos,
mar morto de peixes vivos,
o pantâno permanece fantasmagoricamente alegre,
apesar de sua aparência podre.

Sertão?


Ensina-me sertão, como ser tão forte,
aceita sertão, o clamor desse urbanóide sem sorte.
Sertão, como pode ser tão esquecido?

Como pode ser tão bonito?
Como consegue sertão, ser tão rico?
Como pode ser tão maldito?

Pai de Gonzagão, Raulzito, Alceu Valença...
Me diz o porque de ser tão firme tua presença?
Éis o palco do drama vivido pelos filhos teus,
quando falo de ti sertão, sinto-me um pagão falando de deus.

E por querer-te apenas em alegria
não mais usarei esta expressão, "sertão".
Vou chamar-te somente de terra!!

Quantas e Quantos,

Quantas vezes eu vou ter de errar
pra aprender a perdoar?
Quantos dias ainda vão passar
pra que eu aprenda a aceitar?

Será que o tempo vai me ensinar?
Será que ainda há tempo pra recomeçar?

Quantos sonhos ainda vou sonhar
pra que eu ache a resposta?
Se é que há respostas pra achar...

Muitas vezes eu só aprendi quando resolvi mudar,
mas hoje sei que há muitas coisas
que os olhos não podem enchergar.

O verbo ter

Tudo que tenho são abstrações,
tudo o que tenho são em maioria,
desejos e fantasias.

Tudo que tenho são lembranças de um dia
e realizações do hoje.
Tudo o que tenho aprendi a ter na rua (na escola da vida).

Tudo o que hoje tenho,
é a soma do que não me tiraram
com a multiplicação do que consegui.

E foi assim que descobri,
que o tudo que tenho, é o muito e o pouco com que me contento
e o básico me faz feliz...

Porém se a vida teima em me negar alegria,
sigo tendo dentro de minha utopia
ódio em fugaz demasia.

Sigo contudo tendo esperanças,
como quem tosse sonhos...
não ei de morrer na lama de minhas posses!

Vazio!

Vazio...Há um vazio dentro do meu vazio.
Não sei o que sou,
mas sei que sou vazio.

Porém o que seria tal vazio?
Em mim uma agônia no cio,
uma bala alojada no meu ser confuso.

Fechada a janela de minh'alma.
Até minha calma me doe,
fico quieto enquanto a angústia me corroe.

Não sei pra onde ir, mas sei que tenho que ir pra algum lugar,
pois lugar nenhum pra mim é pouco,
Loucura é o vazio profundo que me faz louco.

Vazio, vazio, vazio...
Estou sentindo falta de algo que não sei.

Corpo Fechado

Num arrepare não seu moço,
pois aqui do pescoço pra baixo
todo mundo é igual.
E só naqueles em que falta o respeito
há um certo diferencial.

Sou eu o homem comprimido,
comprimido na boca cosmopolita,
sou eu a voz que grita em meio a povoação.
Um camaleão reavivando no caos
os resquícios da terra natal.

Pois aqui os mesmos justiceiros injustiçados
caminham sobre esta terra
travando a mesma guerra desigual,
a história é sem fim , mas a honra é mortal.

A mesma dor, o mesmo descaso, o mesmo perigo,
no pau-de-arára moderno "o coletivo",
a mesma massa sem graça e sem juízo,
se entrega ao trabalho escravo e impreciso,
a mesma mão calejada e o mesmo sorriso.

Quem puder faz a reza do corpo fechado
ou acende uma vela,
porque o que no sertão foi cangaço
na cidade é favela!!

Neobucolismo

Sou eu um bucólico moderno,
apaixonado por touros mecânicos
e passeios de carroça motorizada
pela highway de asfalto.

Sigo colhendo flores Artificiais
no jardim industrial,
endeusando as musas do agora
e esquecendo-as no amanhã.

Pastoreio os cães vira-latas
que chafurdam no lixão,
mas que outrora...
davam lugar a lindos cabritinhos.

Nasci em meio a selva de pedra
ouvindo o grunido
dos pombos cinzentos
nos fios de alta tensão.

Oh que tempo feliz!!
Oh, glória épica comtenporânea!!
Majestade de ferro retorcido
regada de graminhas que emergem de teus vãos.

Quem sou eu para deixar de te exautar,
quem sou eu para não aclamar tua beleza.
Beleza afluente que segue pelos córregos fétidos
onde nadam as mais vitaminadas ratasanas.

Amo-te ambiente tecnonatural
onde o ar esfumaçado, porém leve,
invade meu pulmão
e me faz flutuar...

Amo-te, pois sou parte de você
criador e criatura,
poluição, jamás água pura!!!

Maio

Quando as festas de família chamavam a memorar
mais vida na contabilidade das existencias ali comuns,
entendimos o calor no qual submetiamos nossas almas,
entendiamos a chegada do frio
com a pele de quem deleita-se das sensações da natureza
com o respeito necessário para se ser humano.
Nas tardes nubladas projetavamos na amplitude do céu
nosso olhar perdido de branco à meditação,
como a ultima folha que restara do outono no solo.
Saudade de sentir-me ocioso,
buscando no papel conforto pro excesso de pensares,
saudade de ser criança sem birra no esplendor dos cuidados da vó,
no esbravejar das mães pedindo silêncio e menos correria.
Tudo deve ser mais calmo nessa época,
como tudo que muda pra melhor.
Afinal o horizonte conduz a energia de quem vem
e da o ânimo preciso para quem ja está.

A peste

Há uma peste no ar, há algo fetido.
Se espalha e coagula o pensamento,
transforma os sonhos em poeira
e te entrega a realidade crua e servil

Torna-te sensato e louco ao mesmo tempo,
o faz resistênte a dor,
faz-te esquecer o amor
e comandar o corpo como um saco vazio.

Há uma peste no cio,
nos ensinando a ser modelo,
a ser modelado,
a ser vendido e a ser comprado.

Há algo de estranho
consumindo quem não tem defesa,
reafirmando o predador, como predador
e a presa, como simples presa.

Que praga é essa?
Que põe cada qual no seu lugar,
Que nos faz esquecer os valores
e tornar-nos corrompiveis.

Que peste é essa,
da qual não podemos fugir,
e se tentamos acabamos invisiveis
e condenados a uma falsa insensatez.

Há até aqueles que pensam estar livres,
aqueles que pensam ser portadores da cura,
Mas a peste é camuflada
e se faz necessária a todo tipo de gente, até quem não à quer.

Pois a peste
mora no nosso desejo
e termina a paz e a guerra
com um simples beijo.