sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Elementos para uma filosofia do amor (parte 4)

"O amor que eu te tenho é um afeto tão novo,
que não deveria se chamar amor...
Poderia se chamar nuvem,
por que muda de formato a cada instante,
poderia se chamar tempo,
por que parece um filme que eu nunca assisti antes...
Poderia se chamar silêncio,
pois minha dor é calada e meu desejo é mudo,
poderia simplesmente não se chamar,
para não significar nada e dar sentido a tudo..."
(Paulinho Moska)


A idéia sobre o que é o amor vem sendo historicamente deturpada, pelos que armados com a razão tentam esquizofrênicamente construir um conceito concreto sobre algo tão subjetivo, tentam transformar num monólito o que é vento, e como todo bom vento vale mais sentir que explicar.
Ao meu ver existe uma ambigüidade essêncial em torno da idéia de amor, embasada em torno de 2 elementos fundamentais: A idéia de amor como construção e a idéia de amor como desconstrução. Na primeira lógica entende-se o amor como um estágio de um processo vivido por indivíduos irmanados por sentimentos de carinho e respeito e que por sua vez, decidem viver juntos. Já a outra idéia está mais ligada ao que se conhece por paixão, algo que nos tira a consciência, que nos faz rever conceitos, nos apresenta um mundo novo, nos envaidece e desconforta. É como se houvesse uma face Apolínica e outra dionizíaca congregadas numa mesma cabeça.
Entendendo esses conceitos como complementares e não opostos podemos ampliar as possibilidades de interpretação e de locação dessa idéia em nossas vidas. Pois nesse sentido amar torna-se um exercício involuntário, que torna nosso subconsciente inteligente. O que o desloca dos sentimentos tristes que se confundem com o mesmo, como o sentimento de propriedade, avareza e pequenez que circundam as novelas, os romances de auto ajuda. O amor é dolorido e belo, pois é o aprendizado da convivência com o desconhecido, é aprender a caminhar em nuvens, enfim, é a harmonização entre a construção e a desconstrução.
É por isso que a dificuldade de lidar com a história do outro é por muitas vezes um problema, por muitas vezes acabamos com possibilidades maravilhosas de vivênciar o amor com alguém, pois queremos negar que a pessoa teve outros amores antes de nós, queremos acumular o amor do outro em nós, sem perceber que isso seria impossivel, já que os seres humanos tem uma capacidade tão infinita de amar que não há corpo ou espirito que conseguiria reter todo amor que o outro pode proporcionar. O amor é a face de deus em nós, o amor é deus em si, e perante essa grandeza somos tudo e nada. Partilhamos a criação sem ter dimensão do tamanho. Pois o amor é uma constância que não pode ser dissolvida, que não pode ser mensurada. A dificuldade está em perceber que a violência é um pedido de socorro, e que a quietude é uma bomba relógio e tudo isso esta contido no amor.
Logo cada estória vivida com alguém é fundamental e inseparável, sem é claro, pressupor uma barreira que impede a vivência de novas relações, é sim um repertório que te permite desenvolver e praticar cada vez melhor o maior sentimento do mundo.

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