quarta-feira, 22 de maio de 2013

O fogo

Ao redor das barricadas, na rua, praça de guerra
ele se projeta ao céu, fogo sobre os cães e os cães sobre a gente

ladram por de traz dos capacetes e seguem aguerridos
em nos marcar com seu cassete

nós devolvemos a ira, e lhes repassamos o fogo
pela boca da garrafa a tocha arde a sanha do povo

E em poucos instantes o cenário é o inferno
o fogo amigo, e o fogo do inimigo se irmanam

come as tábuas do barraco a centelha desvairada da grana
e ali chorramos lava do vulcão adormecido

que o ônibus lotado fingiu não ter visto,
que a sobra de comida esqueceu de alertar...

E nessa hora os cães empreendem fuga
e nós não temos pra onde fugir

Foi a casa, veio a ruga, foi a guerra, veio a luta
foi ilusão e ficou a tempestade

quando só restava fumaça, fui procurar a identidade
e nunca me encontrei

terça-feira, 14 de maio de 2013

Sísmico

Me abalo, cismo quando reencontro você
Sísmico me propago em suas curvas
tremo, temo o advento das ondas

Mergulho e me espalho em meio sonoro
e nos poros incorporo um novo tema
e o poema emerge da tormenta 
para aliviar o sentimento que soca

A boca seca, e o medo se funde ao desvario
na nuca um arrepio te recorda
e acorda a terra inteira o terremoto

Desorganiza a estrutura tua presença em minha vida
e não permite fuga, de repente faz surpresa
e a presa afunda a carne crua
rendendo-se toda à sua beleza

Cínico cometo sempre a mesma proesa 
de te erguer em mim, em prosa 
pra encantar minha rudeza

Perenemente o vai e vem do mar
nos refazendo e destruindo
castelo de areia que arrebenta 
com a força sangrenta do abalo sísmico

segunda-feira, 25 de março de 2013

Só por um dia

Cansados desamores, mau falecidos já recebem flores
não te escondas de mim, já conheço teu jogo, teu fim
Sei que esqueces me lembrando, sei que me amas desprezando
Sei que sou assim, meio sem pé nem cabeça
mas saibas que só retiro umas coisas pra que o coração apareça
Por isso, vê se para de jogar, me deixa te livrar, te tornar livre no meu modo de amar!
Vambora fazer dos nossos corpos morada secreta de caricias veladas
vem sem farsa que eu te quero pelada
Desnuda de amarras, sem medo de alforria
livra-nos mesmo que só por um dia!

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Nas entrelinhas da noite

Meianoitecendo versos em teus cabelos
meio florecendo sonhos em teus vãos
Meianoitecendo a lua pra estampar seus olhos
meia noite sem noção
Meio torta, mas sem tortura, só canção!

Meianoiteci ao seu lado
tecendo manhãs cantei de galo
Meio iluminado, meio no escuro
meio indo embora, meio ainda com você

Meianoitecido fiquei a vida toda depois de ti
o dia na cabeça, a noite no coração

Meianoitecido rasgado,
acabei te costurando na pele, na moralzinha
Pra que tu te reveles... nas entrelinhas

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Poemas e/ou mantras

A poesia é uma espécie de mantra
que repetimos na intenção de nos alinharmos
com as energias que profetizamos nas palavras
Nem sempre entendemos por completo o que foi escrito,
nem sempre somos o que escrevemos em primeira pessoa
É de fato um mantra quanto mais repetimos
mais próximos do que expressamos estaremos


sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Uma desculpa pra acabar o mundo

Pralguns o pseudo fim do mundo teve um ar de liberdade,
uma desculpa pra se dar o direito de mudar de vida.

O zé motorista de ônibus por exemplo não foi trabalhar, pois depois de ouvir "O dia em que a terra parou" de Raul Seixas, imaginou que ninguém iria trabalhar também e assim sendo pensou: -Pô se o mundo vai acabar eu quero pelo menos estar com minha família!

O Claudio que tinha por ofício lixeiro, simplesmente abandonou o caminhão na rua no meio do trabalho e foi pra casa da mãe lhe dizer o quanto a amava.

Até a Alice que trabalhava no Paraíso, mas num trabalho que não tinha nada de mundo das maravilhas, decidiu que não atenderia nenhum cliente, afinal não queria correr o risco de passar o fim do mundo com um velho imundo lhe babando inteira, ficou em casa e assistiu o filme que mais gostava, não procurou sua família, pois já não tinha mais ninguém...

O porteiro seu Augusto, chamou seu patrão o sindico do prédio até a portaria e lhe deu um soco no meio da cara e depois de lhe cuspir a face disse: -Fica com seu prédio de bosta seu escroto, eu vou ser feliz! E antes que eu me esqueça negrinho imprestável é o caralho seu filho da puta!

Genival contou pra família inteira no jantar que era Gay e saiu pra dançar...

Maria a beata, saiu pelada pela rua e tomou banho no chafariz da praça com mais meia dúzia de muleques de rua que também gostaram da idéia.

Pra essas pessoas de fato o mundo acabou, pois depois dali novas pessoas se tornaram e a realidade nunca mais foi a mesma.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

No giro da ciranda

Lá estava ela...
No meio da ciranda, girando
e na goma de sua saia o mundo inteiro girava
as histórias dos amores passados, os verões, os medos...
Lá estava ele, nela, dona bela das saias rodadas
Entre as canções e os contos de fadas
Lá estavam eles, e o mundo já podia girar!