terça-feira, 6 de novembro de 2012

Sobre ícones e heróis

Certo dia em uma conversa na mesa de um bar com um amigo cheguei a uma conclusão bastante profícua sobre a diferença entre os heróis e os ícones.
Assim de cara parecem bem semelhantes os termos e até sinônimos e/ou complementares, mas realizando uma análise mais aprofundada fiz uma distinção bastante sensata.
Para mim os ícones são como o próprio nome pressupõe, um ponto de referência, ou seja, uma marcação, um símbolo, porém, um símbolo esvaziado.
Os ícones por tais características são obrigatoriamente vassilantes, pois são mera representação do real, um ponto superficial, quase sempre atrelado ao marketing que a imagem carrega. Os ícones apesar de óbvios são incoerentes, e mesmo dentro de sua incoerência permanecem óbvios. Os ícones são, assim como os ícones/links de internet um ponto de convergência, onde os diversos mouses (maus Zés), se direcionam para a busca do porto seguro, um destino, quando na verdade estão apenas tocando iconografias, que são por natureza ilusórias, não são fins em si, mas caminho para verdades muito mais complexas, são como hiperlinks, o texto está para além da referência.
Já os heróis são viscerais, podem até ser barbaramente cruéis e cegos pelo tanto que acreditam em seus ideais, porém tornam-se símbolos pela honradez, pelo desprendimento, pela gana, pela força, pela inteligência e por uma incomum humanidade sobrehumana.
Os heróis quase sempre erram, mas ousam serem expostos até as viceras, não são apenas projeção de uma imagem, carregam suas contradições e suas vontades como bandeiras, assim como os vilões. São verdadeiros dentro de sua existência abstrata, são coerentes mesmo quando incoerentes. São desconhecedores de limites! Não morrem na praia das ostentações, nem são facilmente comprados como os ícones.
Ambos são utéis, mas pra se ter uma idéia, poderia exemplifica-los usando referências como Jimy Hendrix e Claudia leite.
São diferenças gritantes não é? Mas não entenda apenas com os olhos do preconceito musical, não são referências tão distintas apenas por que são de estilos diferentes, mas sim pelas trajetórias de vida, outro exemplo bom e menos aparente seria comparar Luiza Mahin à Negra Li, uma é símbolo de resistência, lutou contra as amarras físicas e simbólicas do preconceito racial em tempos de exclusão muito mais duros que os de hoje, a outro por sua vez, ao conseguir projeção faz uma plástica no nariz por não gostar da própria imagem na TV (ooh Antônias brilha?).
Enfim, fiz todo esse prólogo para chegar a uma questão que há muito me inquieta, a precariedade das nossas referências na atualidade, sei que sou um tanto saudosista, mas creio que não é sem razão. O que mais que pega é a análise dos contextos históricos, pois hoje temos bases muito mais sólidas para efetivar mudanças profundamente mais poderosas e nos valemos de nossa força para criar uma resistência medíocre às injustiças sociais e amarguras pessoais.
Creio que o ser humano sempre precisou de heróis, mas de ícones não. Pois os heróis são produto da intensa necessidade humana de transfomar a realidade e de faze-la cuidando dos que estão a sua volta, já os ícones querem poder, pois não possuem poderes naturais, querem glórias individuais por conquistas coletivas. Querem ser referência meramente pela visibilidade que isso dá, fama!
Quando se fala da questão dos heróis por ai, sempre tem um vomitador de frases feitas que fala aquela velha frase de Bertold Bretch "Miserável país aquele que precisa de heróis". O engraçado é que o Zé mané que fala essa frase nem sabe de onde ela foi tirada, pois não sabe que ela um pouco mais completa diz assim "Miserável país aquele que não tem heróis. Miserável país aquele que precisa de heróis".
Pois é mais ou menos assim que penso, um país que não é capaz de criar heróis é uma falácia, pois torna-se dependente de um ou outro dito "herói".
A grande sabedoria que tiro do arquétipo dos heróis, esses mitológicos e vicerais, é a sua capacidade de ser um herói, pois é exatamente no sentimento de também poder ser um herói que me movo, contrário dos ícones que são geradores de imobilidade, já que tornam-se pontos de transferência de responsabilidade, pois trazem consigo a idéia de que representam o todo, logo não precisamos nos preocupar, pois os mesmos estão à olhar por nós.
BALELA!!!! Só nossos próprios olhos podem olhar por nós, ninguém mais!
Os verdadeiros heróis normalmente só são reconhecidos quando morrem, por que durante a vida estão tão misturados ao coletivo que torna-se praticamente impossível identifica-los.
Vivemos atualmente uma extrema carência de pessoas assim, por isso vira e mexe caímos na ilusão da mídia que cria mitos instantâneos para o rápido consumo massivo, porém basta que olhemos mais atentamente para ver a artificialidade dos mesmos, ora travestidos pelo bom samaritanismo dos que não destroem a natureza e nem o capitalismo e nem nada, ora na caricatura do rebelde sem causa que destroe tudo sem nenhum por que. O pior é que esses modelos se reproduzem em todos lugares e a todo momento, como um vírus, nas periferias e nos bairros nobres, qualquer pateta torna-se uma celebridade por ter feito qualquer ação que simplesmente deveria ser entendida como operação padrão, ou faz uma bizarrice qualquer e ganha milhões de acessos no youtube e pronto, é o predestinado.
Aos que não querem ser heróis cabe a dificil missão de se-los diariamente. Nas beiradas do estrelato, seguir fazendo mudanças coletivas e impulsionando novos heróis a existirem sem medo, pois afinal ser herói é ser movido por amor, mesmo que não correspondido!

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