quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Com tato

Pus?

Sinto muito Jesus, 
mas foi você que pediu pra carregar essa cruz

E não me venha dizer: 
Perdoe-os senhor, eles não sabem o que fazem!

Pois eu sei bem dos risco que corro, sei deveras
o quanto morro a cada dia.

Sei das falézias da agônia e dos bosques da felicidade
com tato, com verdade... Por que busquei tudo isso.

E ainda assim não lhe roguei pragas!
Segui sozinho em meu caminho de chagas

Pois é, saiba que cada um germina o que quer
amor, loucura, doença e prazer.

Você não fez jus a caminhada,
pelo contrário essa criança mimada
carregando essa cruz pesada.

Olhe pra você, 
perceba o tamanho da raíz quadrada
perceba o mundo inteiro te querendo 
a pessoa mais amada.

Vai, desintoxica-te dessa dor
para com todo esse sacrificio,
deixa de ser cego, 
não vês que tu é quem sustenta esses pregos?

sábado, 24 de julho de 2010

Lamento passado

Pela fresta do muro dos fatos mirava
pelas pontes do futuro não alcançava,

mas o que procurava?

Procurava mulheres como estrelas,
possuia as miragens pensando te-las
e as guardava em minhas celas
procurando resquícios de mim em suas telas...

Paisagens pintadas no suor de minha aquarela

Pois eu, o errante navegador das constelações,
comia os corações vazios e vomitava amores 
dentre as milhões de flores astrais

Eu procurava em águas razas oceanos abissais...
Procurava!

Já não procuro mais

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Rosa de Chumbo

Essa rosa de chumbo…

assim, singela e perigosa, essa rosa sou eu.

Essa beleza forte, sem rumo sem norte

É tudo que me compõe

 

Frágeis petálas duras e suas memorias escuras

Remetem sonhos e loucuras de outros tempos

 

Rosa viva, embebida no orvalho

das lágrimas derramadas por um coração maior que o peito.

 

Flor que enfeita os feitos do passado e do presente

Adorno de Guerra semente da estória

Primavera da mente, componente da terra.

 

Rosa do agora na aurora do mundo

Botão nascido do chumbo, no limbo e na lua

Avermelhando as ruas no rubro do amor

 

Deflorando consciências pelos becos da cidade

Sugando seivas de solos ricos em verdade

Clamando os sentimentos fertilizantes

Que alimentam as almas dos amantes

 

Essa rosa sou eu!

terça-feira, 29 de junho de 2010

Dilema

Na encruzilhada do Mac Donalds
uma marmita de feijoda repousa como um ebó

E eu, sigo só... Observando a mandinga da sociedade industrial

Eu e minhas lumbrigas 
travando as famélicas brigas do estômago cultural

O poema traz o dilema, 
mas não preenche o vazio

Abemos chester,
pois de certo o problema esta no cio! 


sexta-feira, 25 de junho de 2010

Miserável

Hoje dei o ar de minha desgraça,

Pra que a sua graça pudesse ser mais viva…

Frente à frente minha miséria e sua fraternidade, 

minha maldição e sua vaidade. 

Me desculpe se não sou o que você previa.

Eu só quero não ser esse poço de bondade 

onde mora a cobra esguia.

Vivo assim, 

contrastando minha palidez ao seu vermelho.

Sou seu espelho inverso, 

derramando versos no transbordar da agônia.

Existo pra que seu ego, possa se inflar.

Na derradeira hora em que me salvas à beira do abismo

Sou esse sofista errôneo injetando dúvida 

no seus hormônios marxistas.

Sou a brasa acesa do cigarro queimando o tempo 

num cata-vento de fumaça.

Fique tranquilo, amigo…

a minha dor um dia passa!

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Enigma-Palavra

Meu adverso está contido
em grandes parágrafos de luta

e o resultado é um estribilho
marcado pela dor e pela alegria

Frases de melodia atonal
são elementos do jogral que invento
contra a gramática européia

A identidade do poema
traz na derme o dilema cultural
a filosófica onomatopéia

Pois nem sei quem mais sou
na equação viciada:
Negro-índio-Carapálida

A retórica intrínseca vem como ingua
e denuncia no grito
a malandragem da língua

No meu dialeto a verdade como interrogação:
-Tudo que é desvendado não exclui
a possibilidade da ilusão!

Mais de novo do mesmo velho

Em uma só voz nossos cantos
quantos de nós como tantos,
outros dos mesmos somos,
mas não somamos,
pois limitamos nossos campos,
perspectivas...
quem vende a venda que compramos pra tapar os olhos?
Quem foge a mira?
Por que fingimos não ver?
No senso comum o sonho é de graça,
mas quase sempre é tão caro, é tão raro!
O real é mais fácil
ainda que nada confortável
o desprazer é constante
mesmo que insuportável...não?