Se corrente teórica fosse coisa boa de se seguir,
não se chamaria corrente e sim asas de pensar.
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
quinta-feira, 26 de julho de 2012
Oriundos
No banco de uma praça no Jardim Ângela, dois amigos discutem sobre a questão da periferia de uma forma bem incomum.
-Mano você já viajou na idéia de periferia?
-Acho que não entendi bem, discorra melhor sobre a questão?
-Pô caráio, tipo, sobre como o baguio tá sendo falado por aí hoje em dia?
-Sim, creio que esse fato se dê por conta da exploração do tema pela mídia.
-É, se pá é mesmo, é engraçado né? No jornal eles chamam a quebrada de comunidade... rsrsr... Mó brisa, nínguém aqui na vila fala comunidade!
-É, mas o Waltinho coordenador da associação de moradores também usa essa nomenclatura para se dirigir ao bairro para os estrangeiros e estudantes que aparecem por aqui vez ou outra, não é mesmo?
-Sim, mas pode se ligá que ele fala assim só pros gringos e pra esses muleque de faculdade mesmo, pros mano aqui da área ele num fala assim não. Nem mesmo pra outros mano de outros bairro. Ele sempre fala "quebrada".
-É isso me parece um dilema de linguagem. Pelo que pude compreender você se refere ao bairro, quando fala com os moradores do mesmo ou entre outros moradores de bairros desfavorecidos quanto este, como "quebrada". Porém se você for falar com alguma pessoa oriunda de um bairro abastado, um estrangeiro ou um repórter você utilizaria o termo "comunidade", isso procede?
-Sumêmo!
-Mas onde se utiliza o termo periferia?
-Em situação mais de reflexão tá ligado?
-Hum, interessante, isso nos leva a conclusão de que a utilização do termo "periferia" tem uma adequação mais coerente em contextos políticos. Me responda uma coisa, você vale-se dessa terminologia também em situações de auto afirmação?
-Orras, sempre que o fato de ser de quebrada me abre portas eu já logo sito "aqui é periferia porra!"
-Então também tem ligação com um conceito de identidade. Muito profunda essa reflexão hein?
-Vai se lascar! kkkk... acabou a brincadeira agora é minha vez de ser o intelectual.
-Uhahauha, pô mais foi boa a interpretação, falei até oriundos...kkkk, demais, vale oscar uma dessas hein?
-Pode crê, qual o tema da vez? Um mais difícil que periferia vai...
-Agente tá ficando bom nessas de domínio de linguagem hein?
-Profissionais! Com uma retórica dessas ninguém segura a gente!
-Mano você já viajou na idéia de periferia?
-Acho que não entendi bem, discorra melhor sobre a questão?
-Pô caráio, tipo, sobre como o baguio tá sendo falado por aí hoje em dia?
-Sim, creio que esse fato se dê por conta da exploração do tema pela mídia.
-É, se pá é mesmo, é engraçado né? No jornal eles chamam a quebrada de comunidade... rsrsr... Mó brisa, nínguém aqui na vila fala comunidade!
-É, mas o Waltinho coordenador da associação de moradores também usa essa nomenclatura para se dirigir ao bairro para os estrangeiros e estudantes que aparecem por aqui vez ou outra, não é mesmo?
-Sim, mas pode se ligá que ele fala assim só pros gringos e pra esses muleque de faculdade mesmo, pros mano aqui da área ele num fala assim não. Nem mesmo pra outros mano de outros bairro. Ele sempre fala "quebrada".
-É isso me parece um dilema de linguagem. Pelo que pude compreender você se refere ao bairro, quando fala com os moradores do mesmo ou entre outros moradores de bairros desfavorecidos quanto este, como "quebrada". Porém se você for falar com alguma pessoa oriunda de um bairro abastado, um estrangeiro ou um repórter você utilizaria o termo "comunidade", isso procede?
-Sumêmo!
-Mas onde se utiliza o termo periferia?
-Em situação mais de reflexão tá ligado?
-Hum, interessante, isso nos leva a conclusão de que a utilização do termo "periferia" tem uma adequação mais coerente em contextos políticos. Me responda uma coisa, você vale-se dessa terminologia também em situações de auto afirmação?
-Orras, sempre que o fato de ser de quebrada me abre portas eu já logo sito "aqui é periferia porra!"
-Então também tem ligação com um conceito de identidade. Muito profunda essa reflexão hein?
-Vai se lascar! kkkk... acabou a brincadeira agora é minha vez de ser o intelectual.
-Uhahauha, pô mais foi boa a interpretação, falei até oriundos...kkkk, demais, vale oscar uma dessas hein?
-Pode crê, qual o tema da vez? Um mais difícil que periferia vai...
-Agente tá ficando bom nessas de domínio de linguagem hein?
-Profissionais! Com uma retórica dessas ninguém segura a gente!
terça-feira, 17 de julho de 2012
Nunca... Sempre!
A frase mais covarde que já ouvi na vida é "nunca diga nunca!".
Que merda de frase é essa?
E vocês já repararam que quem a diz sempre diz com um ar profético sugerindo que você se arrependerá do que disse?
Covardes! assim chamo os que temem o nunca, pois esses vivem da dúvida e nunca poderão experiênciar a força de uma certeza, ainda que essa certeza seja provisória, como são a maior parte das certezas.
O nunca sempre nos leva além, já que a recusa te impulsiona a traçar caminhos improváveis. E o caminho do nunca é o caminho da coragem, do enfrentamento do erro, da resistência, da autenticidade, da antineutralidade!
O medo de quem nega o nunca é a possibilidade de ter de se deparar com a dissolução da certeza no povir, o que só me faz pensar que esses que nunca dizem nunca, acham que a vida é imutável e que as posições assumidas são perpétuas. Como se o fato de dizer nunca te prendesse a eterna sustentação de um veredicto.
Porém, ao contrário do que pensam os covardes, o nunca é o pai do caos, e é nele que encontramos a possibilidade de bailar com as contradições da vida, sem que o sempre da dúvida te amarre as tortuosas estradas do equívoco e da incerteza.
Por isso eu sempre digo nunca, para que nunca me privem o direito a contradição!
E é bom lembrar que quem diz "nunca diga nunca", já está evocando duas vezes o bendito nunca!
Que merda de frase é essa?
E vocês já repararam que quem a diz sempre diz com um ar profético sugerindo que você se arrependerá do que disse?
Covardes! assim chamo os que temem o nunca, pois esses vivem da dúvida e nunca poderão experiênciar a força de uma certeza, ainda que essa certeza seja provisória, como são a maior parte das certezas.
O nunca sempre nos leva além, já que a recusa te impulsiona a traçar caminhos improváveis. E o caminho do nunca é o caminho da coragem, do enfrentamento do erro, da resistência, da autenticidade, da antineutralidade!
O medo de quem nega o nunca é a possibilidade de ter de se deparar com a dissolução da certeza no povir, o que só me faz pensar que esses que nunca dizem nunca, acham que a vida é imutável e que as posições assumidas são perpétuas. Como se o fato de dizer nunca te prendesse a eterna sustentação de um veredicto.
Porém, ao contrário do que pensam os covardes, o nunca é o pai do caos, e é nele que encontramos a possibilidade de bailar com as contradições da vida, sem que o sempre da dúvida te amarre as tortuosas estradas do equívoco e da incerteza.
Por isso eu sempre digo nunca, para que nunca me privem o direito a contradição!
E é bom lembrar que quem diz "nunca diga nunca", já está evocando duas vezes o bendito nunca!
sexta-feira, 6 de julho de 2012
terça-feira, 26 de junho de 2012
Não sei pr'onde eu tô indo, mas sei que tô no meu caminho...
"VOCÊ É AQUILO QUE FAZ, QUANDO NINGUÉM ESTÁ VENDO."
Li essa frase do Sérgio Vaz no seu livro "literatura, pão e poesia" e me questionei mais uma vez sobre a velha questão da identidade. Estava no ônibus, MP4 no ouvido tocando capitulo 4, versículo 3 do Racionais, saquei o livro e abri em qualquer página. Bati o olho na frase e me voltei para fora do ônibus, um puta trânsito na descida da Rebouças. Me veio quase que instintivamente a reflexão já empoeirada: -Afinal, quem sou eu?
De bate-pronto Mano Brown respondeu:
"Playboy forgado de brinco: um trouxa,
Roubado dentro do carro na avenida Rebouças
Correntinha das moça
As madame de bolsa
Dinheiro: não tive pai não sou herdeiro
Se eu fosse aquele cara que se humilha no sinal
Por menos de um real
Minha chance era pouca
Mas se eu fosse aquele moleque de tôca
Que engatilha e enfia o cano dentro da sua boca..."
Essas coincidências vivem acontecendo comigo, não por acaso, é claro! É que talvez eu tenha o poder involuntário de coincidir a realidade com as músicas que ouso e com as literaturas que leio, ou pode ser também que isso tudo seja apenas um fator explicito de que minha cabeça não descansa nunca... Mas o fato é que lá estava eu, na Rebouças, essa mesma avenida citada pelo Brown, reparando exatamente o contraste entre a mercedes lotada que me levava e as várias mercedes vazias e insulfilmadas que planavam à dois quilômetros por hora na faixa ao lado do corredor. A perguntava navegava na consciência: -Quem sou eu?
Nesse contexto, várias respostas vinham a mente, ainda mais quando se está voltando do trampo... Mas decidi fugir do óbvio, e busquei comparar quem eu era há 10 anos atrás e quem estava sendo no atual momento. A primeira constatação veio com a música. Lembrei que no auge dos meus 15 anos eu só ouvia Racionais involuntariamente (nesse instante lembrei de uma outra música "Quantas canções que você não cantava, hoje assovia pra sobreviver"), afinal era uma fase em que eu me encontrava tomado pelo universo punk, descobrindo, minha maneira de atuar politicamente no mundo, encontrando uma maneira de me situar na realidade em que eu vivia, e com as expectativas que eu tinha de transformação. Fui tão longe que me veio a boca o sabor do vinho "cantina da serra" que me acompanhava nas noitadas de rebeldia (lembrei daquela do inocentes "de noite quando a cidade dorme, anjos negros de asas sujas escuras saem de suas tocas e tomam conta das ruas. São os reis da diversão, do ódio e da solidão...").
Sabe que na minha época de adolescência era quase que obrigatório curtir Racionais, talvez por isso mesmo eu tenha ido curtir um Rock'n Roll, só para ser do contra. Me lembro como se fosse hoje as tretas com um camarada na escola que falava que eu curtia música de bicha por que gostava de Legião Urbana. Doidera né, eu defendia o Renato Russo e toda a rapa do rock nacional, fazia parte de um seleto grupo que curtia o som brasileiro, e por conta disso mesmo acabei retornando ao Racionais, anos depois, sem pressão de ninguém. Sei lá, bateu uma saudade das músicas que eu sabia de cór só ouvindo de tabela.
Acabei percebendo naquele ônibus o quanto a música fazia parte da minha vida e como foi dela que bebi as maiores filosofias que compõe minha caminhada nesse mundo. A sensibilidade que a música caipira dos meus pais me proporcionaram, o senso político do punk, a identidade do rap, o gingado do samba... Pois é, nenhuma leitura me deu isso, apesar do gosto que eu fui adquirindo pela linguagem. Assim sendo, pedi licença a Sérgio Vaz e guardei de volta o livro na mochila e me concentrei com mais afinco na música que tocava, e não a toa era um Raulzito "não sei pronde eu tô indo, mas sei que to no meu caminho..." Um leve riso me estampou a face e a resposta para a pergunta inicial me veio a mente: -Porra eu sou tudo aquilo que eu me permiti ser! Ou seja, eu sou movimento, assim como as canções...
Não Haveria lição maior para se receber da música se não essa constatação. Me parece óbvio, não somos o que fazemos para ser sinceros com as nossas convicções, mas sim o que fazemos para ir além daquilo que nos parece essencial. Isso é ser humano, ir além sempre! Ora, se eu não tivesse me permitido ouvir Racionais só por que o rock e a MPB sempre me foram mais viaveis eu com certeza não seria quem sou e não teria a visão de mundo que tenho hoje.
Engraçado é perceber que muitas pessoas se matam ou matam as outras por uma certa fidelidade ao gênero musical. Alguns rockeiros seguem a odiar os pagodeiros, alguns Punks seguem a odiar os Emos, muitos Rappers seguem a odiar os "playboys" da MPB, e todos seguem no mesmo ônibus, e o sistema segue a adorar pobre contra pobre, por uma mera questão de estilo.
Li essa frase do Sérgio Vaz no seu livro "literatura, pão e poesia" e me questionei mais uma vez sobre a velha questão da identidade. Estava no ônibus, MP4 no ouvido tocando capitulo 4, versículo 3 do Racionais, saquei o livro e abri em qualquer página. Bati o olho na frase e me voltei para fora do ônibus, um puta trânsito na descida da Rebouças. Me veio quase que instintivamente a reflexão já empoeirada: -Afinal, quem sou eu?
De bate-pronto Mano Brown respondeu:
"Playboy forgado de brinco: um trouxa,
Roubado dentro do carro na avenida Rebouças
Correntinha das moça
As madame de bolsa
Dinheiro: não tive pai não sou herdeiro
Se eu fosse aquele cara que se humilha no sinal
Por menos de um real
Minha chance era pouca
Mas se eu fosse aquele moleque de tôca
Que engatilha e enfia o cano dentro da sua boca..."
Essas coincidências vivem acontecendo comigo, não por acaso, é claro! É que talvez eu tenha o poder involuntário de coincidir a realidade com as músicas que ouso e com as literaturas que leio, ou pode ser também que isso tudo seja apenas um fator explicito de que minha cabeça não descansa nunca... Mas o fato é que lá estava eu, na Rebouças, essa mesma avenida citada pelo Brown, reparando exatamente o contraste entre a mercedes lotada que me levava e as várias mercedes vazias e insulfilmadas que planavam à dois quilômetros por hora na faixa ao lado do corredor. A perguntava navegava na consciência: -Quem sou eu?
Nesse contexto, várias respostas vinham a mente, ainda mais quando se está voltando do trampo... Mas decidi fugir do óbvio, e busquei comparar quem eu era há 10 anos atrás e quem estava sendo no atual momento. A primeira constatação veio com a música. Lembrei que no auge dos meus 15 anos eu só ouvia Racionais involuntariamente (nesse instante lembrei de uma outra música "Quantas canções que você não cantava, hoje assovia pra sobreviver"), afinal era uma fase em que eu me encontrava tomado pelo universo punk, descobrindo, minha maneira de atuar politicamente no mundo, encontrando uma maneira de me situar na realidade em que eu vivia, e com as expectativas que eu tinha de transformação. Fui tão longe que me veio a boca o sabor do vinho "cantina da serra" que me acompanhava nas noitadas de rebeldia (lembrei daquela do inocentes "de noite quando a cidade dorme, anjos negros de asas sujas escuras saem de suas tocas e tomam conta das ruas. São os reis da diversão, do ódio e da solidão...").
Sabe que na minha época de adolescência era quase que obrigatório curtir Racionais, talvez por isso mesmo eu tenha ido curtir um Rock'n Roll, só para ser do contra. Me lembro como se fosse hoje as tretas com um camarada na escola que falava que eu curtia música de bicha por que gostava de Legião Urbana. Doidera né, eu defendia o Renato Russo e toda a rapa do rock nacional, fazia parte de um seleto grupo que curtia o som brasileiro, e por conta disso mesmo acabei retornando ao Racionais, anos depois, sem pressão de ninguém. Sei lá, bateu uma saudade das músicas que eu sabia de cór só ouvindo de tabela.
Acabei percebendo naquele ônibus o quanto a música fazia parte da minha vida e como foi dela que bebi as maiores filosofias que compõe minha caminhada nesse mundo. A sensibilidade que a música caipira dos meus pais me proporcionaram, o senso político do punk, a identidade do rap, o gingado do samba... Pois é, nenhuma leitura me deu isso, apesar do gosto que eu fui adquirindo pela linguagem. Assim sendo, pedi licença a Sérgio Vaz e guardei de volta o livro na mochila e me concentrei com mais afinco na música que tocava, e não a toa era um Raulzito "não sei pronde eu tô indo, mas sei que to no meu caminho..." Um leve riso me estampou a face e a resposta para a pergunta inicial me veio a mente: -Porra eu sou tudo aquilo que eu me permiti ser! Ou seja, eu sou movimento, assim como as canções...
Não Haveria lição maior para se receber da música se não essa constatação. Me parece óbvio, não somos o que fazemos para ser sinceros com as nossas convicções, mas sim o que fazemos para ir além daquilo que nos parece essencial. Isso é ser humano, ir além sempre! Ora, se eu não tivesse me permitido ouvir Racionais só por que o rock e a MPB sempre me foram mais viaveis eu com certeza não seria quem sou e não teria a visão de mundo que tenho hoje.
Engraçado é perceber que muitas pessoas se matam ou matam as outras por uma certa fidelidade ao gênero musical. Alguns rockeiros seguem a odiar os pagodeiros, alguns Punks seguem a odiar os Emos, muitos Rappers seguem a odiar os "playboys" da MPB, e todos seguem no mesmo ônibus, e o sistema segue a adorar pobre contra pobre, por uma mera questão de estilo.
terça-feira, 19 de junho de 2012
sexta-feira, 8 de junho de 2012
Corte seco
Ele observava os pingos da chuva escorrendo na janela do ônibus. Ouvia Elomar no meio do caos urbano, parecia cena de filme: "Joana, vem ver, os sapinhos tão cantando tiranas de bem querer". Por um instante transportou a chuva cinza do trânsito de São Paulo para o terreno seco do solo nordestino. A poeira subindo, a lama empoçando, o verde apontando no horizonte.
Corte seco. Freada brusca põe o cidadão de volta no seu lugar, pensa no atraso, na impotência de seus próprios passos naquela situação. Olha novamente para os pingos da chuva escorrendo no vidro e reflete se não é sua própria vida que se esvai lentamente, dia-a-dia no fluxo da rotina.
É tomado então por um fúria libertina, dá sinal e sai empurrando todo mundo até sair do ônibus lotado. Começa então a despir-se do uniforme da empresa, joga a mochila fora e deita-se no canteiro central da Avenida paulista. Olha para o céu e percebe quase em câmera lenta os pingos da chuva banhando sua face. Sente uma sensação de quase morte, mas ao mesmo tempo uma enorme redenção.
Corte seco novamente. Uma senhora da-lhe um forte empurrão: -Oh rapaz, num tá me ouvindo?! Fecha esse vidro direito!!! Ta respingando em mim! Tira os fones de ouvido, fecha a janela e seca o rosto com a manga da blusa, pensa alto: -Que belo sonho!
Corte seco. Freada brusca põe o cidadão de volta no seu lugar, pensa no atraso, na impotência de seus próprios passos naquela situação. Olha novamente para os pingos da chuva escorrendo no vidro e reflete se não é sua própria vida que se esvai lentamente, dia-a-dia no fluxo da rotina.
É tomado então por um fúria libertina, dá sinal e sai empurrando todo mundo até sair do ônibus lotado. Começa então a despir-se do uniforme da empresa, joga a mochila fora e deita-se no canteiro central da Avenida paulista. Olha para o céu e percebe quase em câmera lenta os pingos da chuva banhando sua face. Sente uma sensação de quase morte, mas ao mesmo tempo uma enorme redenção.
Corte seco novamente. Uma senhora da-lhe um forte empurrão: -Oh rapaz, num tá me ouvindo?! Fecha esse vidro direito!!! Ta respingando em mim! Tira os fones de ouvido, fecha a janela e seca o rosto com a manga da blusa, pensa alto: -Que belo sonho!
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