segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

O velho

Esse você, que tenho medo de mim
é a admiração e o descontentamento que gostaria de não carregar.

É o passado bonito que ainda é grito na garganta minha,
mas pra ti é conversa mansa e nostalgica que se dissipa na fumaça branda do fogão à lenha.

Onde está a chama?Onde estão as canções?
A poesia que ardia nas almas ao ser lançada? Onde?
Onde mora ao menos faísca da brasa viva
que animava motins e insitava revoluções?

Hoje vejo nos olhos cansados um brilho artificial
corroído por rotinas outrora condenadas por vocês.
As rugas do velho não murcharam somente a pele,
também a esperança e a luta foram engolidas no turbilhão das horas.

O que será que deu errado? O que fizemos de nós?
São questões que não ouso de ti, oH tempo!
Mas que sei permanecem no peito
agora arqueado pelo peso das costas...

Saiba que eu, sem obrigações com o passado,
tratarei de reescrever o conto,
reavivarei o fogo, pois sou semente maldita
germinada em outras primaveras,
testemunha ocular de outras eras

Cria de cafuso, mameluco portador da história oral
que não morre em mim,
ainda que meu fim seja o mesmo...

domingo, 10 de fevereiro de 2008

...se a vida fosse bela

Se a vida fosse bela não existiriam as pragas
e todas as fadas dançariam a mesma canção,

se a vida fosse bela não existiria prisão
e todos aqueles que errassem seriam merecedores do perdão.

Se a vida fosse bela não existiria guerra
e viveriamos de paz, sem conflitos poucos, demais...

se a vida fosse bela não viveriamos de ilusão,
pois se a vida fosse bela teria manual de instrução.

Saudade

É um pedaço de passado que não sai do seu presente...

...sem assunto

Tô, mas quem nunca esteve?
As vezes parece que tudo já foi dito, não?
Talvez, mas isso não esgota as possibilidades de apropriação, de reconfiguração...

Cada momento, cada era é única, é particular
e se não é novo é apenas uma forma épica de se falar do tema
acho que um bolo deixa de ser só um bolo se colocamos uma cereja.

Hoje quase não se vê nada diferente e atemporal,
o padrão nos engoliu, quase tudo é previsivel,
quase tudo tem formato já definido
antes mesmo de ser criado, de ser visível.

E até o quase pouco discute das novas perspectivas,
são palavras vivas pra gente quase morta,
são assuntos muito distantes das realidades populares tortas, tortas.

É preciso partir do outro,
é necessário viver pra todos
e isso significa disseminar o néctar do conhecimento ao vento dos homens...

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Ant'agônica

Nos simulacros onde escondem-se os porcos,
há fartura de alimento as custas de nosso suor.
A alma não está a venda,
mas ainda assim é comprada.

Agonizantes gritos de socorro
ecoam das coberturas dos apartamentos,
das cabeças de vento nada de novo
apenas a mesma satira do mesmo povo.

Enquanto isso
proliferam-se nas quebradas
Kamiquases da intelectualidade avessa,
mergulhando de cabeça num mundo sem perspectivas.

Nas derivas da sociedade injetando criatividade
onde reina o que é mediocre.

Cuidado Senhores!!
A vida é cheia de brechas
e nela eu tô solto na buraqueira.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Lua


Lua, bola cheia de vento,
fruta sem coração.
Lua, rajada de tempo,
vida sem ilusão...

Lua, dorme ao relento,
dona da escuridão.
Lua, minha vida de sempre,
deixe-me ser seu irmão...

Lua, tem gostinho de menta
ou será que é de limão?

De andada


Na sarjeta escorre a cana
que deixa o caranguejo urbano cair,
quem almeja a queda desconhece o abraço do solo?
Carbono papel social

faz-se a face visceral,
ele, o chão...
Outrora de pé, agora o lamento póstumo.
Lama, cama de pedra.