sábado, 8 de março de 2014

Outros carnavais


Somos feitos do mesmo asfalto,
mas também de lama de mangues e florestas
somos o efeito das festas dos candombes, de reizados e afoxés
Tu traz na pele um cheiro doce... seriguela com café
e um jeitinho de menina bagunceira que mijou no próprio pé
eu trago o fogo nos abraços, lábio quente
e faro esperto à te cheirar
Somos feitos de partidas e encontros
de salivas, suor e muito mais
do agora que me inunda de você
que venham outros carnavais

quinta-feira, 6 de março de 2014

Capibaribe

Capibaribe meu amor,
a barbárie que te exibe não diminue tua beleza
Vê se não te zanga
quando eu te confundir com a represa do Guarapiranga
Não te zangue se eu disser que és um mangue
Sua beleza é bem maior que a minha ignorãncia
Sou de longe, mas sou teu filho de sangue, e sei...
que essas latas e botinas, copos e urinas que te jogam
são pequenesas incapazes de esconder sua exuberância
João Cabral em sua margem guarda tua poesia
que flui entre o mal cheiro e o perfume
guiando os que vagam sem lume, como eu
Capiba, permita que me acostume a perder o olhar
no teu horizonte,
me atravesso em você sobre ti sou uma ponte
que liga São Paulo ao Recife antigo
Capibaribe meu amigo
deixe que o Beberibe te encontre, hoje bem mais tarde
embreagado de tanto beber comigo ao sol que arde


Jenifer

Jenifer chorou uma estrela
a lágrima cósmica rolou teimosa
e parou na maçã esquerda da face
com medo de perde-la
Jenifer chorou uma estrela
algo normal pra quem conhece ela
mas eu fiquei maluco
corri entre os foliões
nadei entre os tubarões de boa viagem
e não consegui esquecer aquela imagem
Jenifer chorou uma estrela
e eu chorei por vê-la

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Cadente

Tu tens o céu tatuado na pele
constelações de pintas pitam estrelas em tuas costas

Meu suor chove debaixo pra cima
regando suas nuvens
e as estrelas se perdem entre os pelos do meu peito

Aceito a sina de ninar as cadentes
que sorridentes dormem tranqüilas
nos braços do amante

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Deixar ir pra ir também

Ela olhou-se no espelho
daquela vez como nunca

Enxergou-se sem ele e sorriu
no fundo da retina uma lembrança boa
o eterno fugaz que se refazia
foi em paz


Ela olhou pra fora da janela
e viu um belo rapaz
ela o viu e a janela dissolveu

Um novo amor para novos amantes
não mais os velhos amores de antes

Ele percebeu que ela havia ido
pelo olhar do rapaz e pela tez destemida dela

Uma lágrima escorreu na face
e não se pode diferenciar se era ela ou ele
quem chorava

Mas estavam felizes, seguiram...
seus sonhos e suas cicatrizes

O passado precisava dar lugar
antes que morressem sem se amar de todo

De tudo ficou uma canção que ela hoje ouve na voz
do novo amor ou escondida no escuro do quarto
com fones de ouvido se transporta pro tempo
de outrora, sem dores e nem medos
sequer saudade!

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

E?

Eu fico a me perguntar...
Por que me rasgam as carnes esses amores?
Não poderiam ser mais amenos e regados de flores?
Assim como os de novela, sem rumos pré-definidos à seguir!
Por que não me explicam esses amores?
só trazem mais saudades e dores
E ainda por cima têm como conseqüência
despreenchimento e inconformação
ora vazio, ora vão...
Será da natureza do amor, ser assim?
Ingrato, insensato?
Será por isso que os velhos deixam de acreditar no mesmo?
Por cansaço?
Ainda assim fico a me perguntar, e o amor, ama?

domingo, 12 de janeiro de 2014

Discurso Manjado

O do outro é sempre mais errado,
o caminho, o ideal, o traçado
o do outro é sempre mais vendido
mais pelego, mais esquisito
O do outro sempre é mais propenso
a fazer parceria com canalhas
a cometer mais falhas, a trair os irmãos
Já o nosso é revolucionário,
mesmo que passando no mais caro horário
o nosso não é bobo, é universal é do povo, é da globo
o nosso não é pilantra, é esperto se adianta
é diferente, tá ligado?!
os parceiros são vários,
depende do que traz, do que tem pra trocar
o nosso vai ser sempre melhor, mas pode chegá!
Shoppings, bancos, ongs, hollywood...
O nosso é Robin Hood,
Reparação manja?