sábado, 15 de fevereiro de 2020

Asase yaa

Seu corpo é uma ocupação [Asase yaa]
pachamama em lona e madeirite
acredite, seu corpo é favela
cada pelo, cada marca, cada vala...
o seu corpo é o céu e é o chão.
Toda chaga onde a maldade resvala
Você é a bala perdida e encontrada
alojada nas brenhas do pulmão
córrego a seu aberto
é seu ventre machucado
ponto de ônibus lotado teu coração
onde se amontoam homens, filhos e cães clamando atencão
em seu ori as confusões de todo dia
entrelaçam-se as vontades ocas da periferia
Seu corpo, todos sabem é quebrada profunda
biqueira, bocada, peito e bunda
aleita e alucina
sóca e ensina
suas vielas muitos tem medo de adentrar
somente os de sola grossa sabem como pisar
amo cada barraco dos teus olhos
e me equilibro em cada fio dos teus cabelos
Com o tempo aprende-se a respeitar
até mesmo os seus dejetos
nos becos dos seus braços
toda esquina se dobra
em cada dobra eu me curvo
e turvo a mira na direção do seu colo
na palma de cada rua o destino nas mãos
beijo e berro na lama de sua inundação
lágrima seca na sarjeta dos teus lábios
indica o caminho dos sábios na ponta da sua língua
onde ginga a gíria sob os escombros da colonização
elos são pontes sobre os teus joelhos rezando pro deus dos devastados
resistindo em sua alma sobram apenas
os sem terra
no meio da guerra seu corpo é cortiço seguro
E eu um favelado admirando
o sangue e o suor escorrendo
na pele áspera do teu muro

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