segunda-feira, 9 de abril de 2018

Paulistranhos

Não conheço meu vizinho
também não conheço meu pai
sou samurai onde Vênus vende Demillus
cortei meus pulsos
Joana os mamilos
intranquilo verto o caos
e conto as pedras no rim
observando da janela
a solidão entre os jasmins
as ruas seguem sujas
a sua paz o meu pantin
Já não consigo pensar
já não consigo sonhar
já não amo ninguém
dentro dos meus olhos existe um refém.
Brilho encarcerado atrás do cinza opaco.
Me sinto longe, me sinto fraco, me sinto cego.
Ferido ego inflado em retidão
todos estão envaidecidos de tristeza nessa cidade
todos seguem se enganando de tanta verdade
No barraco mais ao fundo no Cantinho do céu
ou na cobertura mais alta da praça Princesa Isabel
Eu sei que o sorriso é carregado de abandono
e não há trono que sustente a pompa de metrópole mais rica do país
SP sem CEP sem endereço pra ser feliz...
E não é que não exista amor sabe, não é que não exista a felicidade,
é que tudo tá sempre por um triz nesse lugar
é que tudo é sempre tão efêmero quanto um desenho de giz...
talvez seja assim também em qualquer outra cidade desse país
mas é que aqui parece que tudo se amplifica,
tudo se esvai, nada fica...
Acho que a urbe que nunca dorme
deve ser na verdade cidade dormitório do Brasil
no cortiço, na favela, na mansão, nada vinga... tudo vaga.
Esquece aonde cruza a Ipiranga com a av São João
e olha pra onde cruza a Cantidio com a estrada do Sabão.
Vê quantos nordestes dormindo em pé as 6h no busão.
Vê quanto amor esmagado...
é Sampa tocando no iphone
é a fome renascendo do cinza
são os diretos que perdemos
são os direitos que nunca tivemos
As gotas cristalinas da garoa
ressaltam a cárie obturada com estanho na boca fria do concreto.
Nublado em mim
céu aberto
Hoje eu to me sentindo meio estranho...
to me sentindo mais deserto.

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