À mim cabe o tempo assistir
hoje depois da revoada de paixões
minha razão sabe sentir
hoje me cabe plantar sementes de amor
e espreitar o flor(e)cimento
Tranquilamente intranquilo
como Zambeze, o rio, infestado de crocodilos
Hoje me cabe cheirar o vento e ver o valor
de quem se encoraja a saltar minhas cancelas
viajar em minhas veredas
ver minha profundidade e meu vazio
bem de perto
Hoje quero viver o arrebatamento
o desvario do sentimento que se espraia em mim
eu não desisti de amar,
hoje quero, mais do que nunca
o prazer de cada vão momento
destilar poesia, ainda que em tempos de guerra
à mim cabe esperar que alguém me invada
se amalgame e ame, tatue-se nas brenhas do meu coração
quero sombra pra descansar sem assombro
à mim cabe a dor dos corações partidos,
dos quereres que findaram sem começar
meu carmas e minhas quimeras
vêem de outros tempos, outras eras
Porém, esse mesmo tempo também me rendeu a sanha
de sempre reassanhar a cabeleira e seguir
fermentando o que me cabe, o que me coube com o passar dos anos
meu vinho não ei de beber sozinho
Nova vida, novos planos, velhos sonhos
eu não desisti de mudar o mundo
eu ainda acredito na arte
E hoje sei que isso não é nenhuma ingenuidade
Amanhã me cabe o futuro
essa encosta de morro
onde ninguém nunca permanece muito tempo
sem virar passado
almejo o que almejam as flores
espalhar beleza em qualquer terreno
sob o lixo, sob o feno, ao natural ou com veneno
Almejo vida que me despetale, que me traga feridas,
mas que nunca me tire o poder e o pudor,
de ainda sem voar,
roubar o beijo do beija-flor
(Daniel Fagundes - Recife - 19/03/2014)
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