segunda-feira, 19 de abril de 2010

Passarela

Outro dia vi você passar,
sem armas, sem escudos, apenas passava...
Como quem baila sobre a viela,
você passava como quem passa o pincel na aquarela
Aquele passo de passado, de quem conhece o caminho
de quem abraça o mundo com os pés,
Olhava pro horizonte com sede de futuros
com pisadas marcadas que estremeciam muros
Vi você e você nem me viu.
Em sua meta eu não acolhia desejo
e não era isso que queria, ainda hoje não sonho, não almejo.
Apenas te via, e passava, e seguia...
Eu de fato, só pensava em ser pedra
daquelas que geram tropeços, mas nos fazem olhar pro lado!

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Ela fez de tudo!

Ela tentou de tudo!
Gritou na rua, bateu em sua porta, mandou cartas...
Escreveu poemas, textos para peças de teatro, chorou no escuro...
Acreditem, ela fez de tudo,
isso mesmo, ela fez de tudo pra parar de sangrar,
amarrou tecidos, fez curativos, compressas, tomou remédios,
Tomou cachaça, fez pirraça, foi a praça e clamou seu nome!
Mas ele, ele não ouvia!
ela continuou tentando,
Fez promessas, fez simpatias, fez macumbas e outras traquinagens.
Dele somente imagens, só fumaça!
Ficou com raiva, xingou até a última geração, quebrou o quarto todo,
brigou com o melhor amigo,
ela fez de tudo!
sim, ela fez de tudo que existia a vida dele.
enquanto a própria desaparecia!

quarta-feira, 31 de março de 2010

Agora

Eita tempo! eita vida...
Ainda limpo a cara cuspida,
com a mesma água da alma lavada.
Reciclagem meu irmão, reciclagem.
comprimento, compreenssão!
eu ainda sonho, mas apenas quando
posso dormir!

terça-feira, 16 de março de 2010

Íconoclasta

Aqui, agora. Re-trato o corpo que antes distratei.
Distraído em tuas curvas
navego em mim as águas turvas da consciência.

Eram só palavras, era só a mão, a pele, a boca...
já era!

Libertei Pandora e naquela caixa amei quimeras.
Já era, já é!
Paixão descartável como os lençois.
A fé do fogo sobre nós, a vóz...

Basta! Basta apenas guardar na retina
a imagem clandestina da sua carne
uma fotografia que desafia a felicidade.

Frenesi, fuga, afeto, frison...
No som em baixo volume a melodia de outrora
do agora, de tudo, resta a restia de luz neon.
Que da janela destaca em meu pescoço
a cor sangrada do teu baton.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Lama

Luxuriante bebida é teu suor
Ante tua presença meu corpo treme golpeado com martelo de Tor
Seiva bendita em solo quente, refrigerante.
Aguardente dos deuses, embriagante.
Somente sua pele pode saciar minha sede.
Somente teu chão pode guardar minha semente.
Vem, sente meu fogo encandecente
Germina meu calor em teu ventre
E deixa que a transpiração do universo em meu verso te envolva
Antes que em tua espera, em lama a terra dissolva.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O homem do saco



João, menino de sagacidade nata, sempre soube quem era o tal homem do saco.
Veio construindo o raciocínio de berço. Sabia que era aquele
que por vezes era de dar medo e por outras presenteava. Um tal sujeitinho de roupas grandes e vermelhas,
usando touca independente do calor que fizesse, além de botas pretas parecidas com coturnos de gambés. Barba grande e branca, no rosto estufado. Não era bem gordo, mas tinha muito volume por debaixo das vestes.
Levava por onde andasse seu saco pesado.
Sabia João que o indivíduo tinha um pseudonimo: Papai Noel. Que usava pra ser conhecido nos dias de fazer bem. Questionava-se sobre o conteúdo do saco e tinha uma teoria muito bem desenvolvida. Acreditava que o "bom velhinho", levava um chaminé no saco, para colocar nas casas das quebradas por onde passava, afinal, como entraria pela chaminé, numa casa sem tal alegoria arquitetônica? João adimirava as traquinagens do homem. Dava presentes para que não suspeitassem que era ele o assombroso fomentador de pesadelos. Aquele que puxava seu pé na madrugada mais fria do ano!
João não deixava falhas em sua argumentação, sempre que pergutavam ao mesmo onde o velho levava os tais presentes, já que o saco estava ocupado com a chaminé. Ele marrento dizia: -Debaixo da roupa ué? Ou você achava que ele é gordo como pensam? Como acha que escalaria as casas com tanta banha? Entendia João que o mesmo levava as lembrancinhas por debaixo do casaco, assim teria espaço para levar o estorvo da chaminé no saco para as casas sem o bendito acessório de entrada.
João cresceu, e de tanto receber meias enquanto os meninos da rua de cima recebiam lindos carrinhos de coleção, resolveu se inspirar no velho Noel, mas não cometeu os mesmos erros. Ao invés de levar chaminés as casas, entrava em residências já dotadas do artefato. Não adentrava lares para dar presentes, pegava pra si os excessos de gente que a vida já tinha cansado de presentear.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Pena de poeta

A pena leve dos poetas
Vai escrevendo liras,
estórias de verdades que pra tantos são mentiras

ali, na egregora dos errantes
na encruzilhada dos amantes,
um lugar de nome: “Boca do lixo”
Lugar que bem podia ser um ouvido
de tantas palavras que escutou.
Eram amores, alegrias, lamentos... quantas canções inspirou

Eram dois bohemios e sua forria,
Dois ebrios na noite a encantar estrelas
No caminho da lua, na faixa estreita da rua
Dois e suas palavras mágicas

Homens meninos com a mesma inclinação
de inventar mulheres em poesia,
mesmo que só por um dia, mesmo que pra vida toda

Personagens sinceros no tablado da vida
recitando textos próprios pra plateias desconhecidas
eles, tão fortes e tão frágeis!
Ainda seguem pelo mesmo trilho torto
à espera do trem

triste lira dos amores perdidos,
Linda história que a lembrança traz com as marés
Eles seguem sorrindo ainda que o chão ceda sobre os seus pés.