O quanto de paz rapaz você é capaz de aceitar?
Esperarás quantos mais dos seus serem ceifados em plena flor da idade
pra se abrir a verdade desses ais?
Quanto pus Jesus, resplandecerás em plena luz
pra que paremos de com nossa carne alimentar os urubus?
Quanta fé fiéis, enriquece os fanáticos que não moram nas favelas?
Que pregam falácias pela tela
e engordam as mentiras transmitidas nos jornais?
Quanta paz rapaz, você é capaz de suportar?
Esperas que te enfiem goela abaixo a morte dos seus próprios pais?
Esperarás que sua irmã seja estuprada por outros policiais?
Quantos mais sem mais deixarão de existir
pra que tu te levantes e pares de fingir?
Quanta paz rapaz serás capaz de transmitir,
quando amanhã sem primavera nenhuma flor puder florir?
Quando de tu fores cobrado o silêncio dos jardins.
Quanto amor existirá em tu no crepúsculo da consciência?
Quanta ausência preencherá teus dias
quando lembrares que todos se foram enquanto você nada dizia?
Que paz rapaz, você será capaz de perceber
se quando a guerra lhe serrou os dentes
vc simplesmente não quis ver?
Quanto sono serás capaz de perder quando a culpa te roer por dentro
e nem a riqueza nem o sucesso te servirem de alento na noite fria?
Quanto medo te sobrará como herança
quando deres conta que a mudança teria sido mais fácil
que esse fardo de agonia?
Quanta paz me diz?
De quanta paz você precisa pra ser feliz...
quarta-feira, 11 de janeiro de 2017
domingo, 18 de dezembro de 2016
Miradas sertanejas
Em Ipubi eu vi
Meninas com a púbis de fora
Pedindo carona e esmola
Pra dopados insanos
Que matam e morrem em seu caminhão.
Vi o chão seco na aurora
Senhoras plantando no lixão
Vi a fome que devora
A dignidade de quem ora
Mas não recebe salvação
Vi a chuva e a seiva
A colmeia baixa da enxu
A florada do flamboiã
O nascimento do caju
Os olhos do sertanejo
Aguando a colheita do umbu
Vi hotéis de luxo
E o bucho do bode no prato do gringo
Vi o novenário de domingo
E a gente sem um pingo
De água pra tomá
Vi a miséria e a fartura
Irmanadas na cultura
de uma só gente
De um mesmo lugar
Vi o sertão high tec
E o moleque se dividindo entre a roça e o beck
Entre a vaquejada e o celular
a escola e o longo caminho de partir e voltar
Vi cisternas e outros sistemas
Pra colher umidades impossíveis
Cursos de rios desviados
Jorrando sonhos invisíveis
Vi o que não tinha pra ver
E os políticos felizes de doer
com o sucesso do esquema
Vi sanfoneiras de 5 anos
A memória viva de Gonzagão
A força bruta de lamparinas
Que nunca conseguiram ser lampião
A ausência de outros planos
Eu vi o povo junto
E vi também a solidão
Eu vi... vi
E hoje sei que Belchior tinha razão
Nordeste nunca houve
Nordeste é uma ficção
Principalmente pro imaginário
Insólito do sulista
Que de vista só conhece a ilusão
Eu vi e sei
que é muito mais do que minhas retinas puderam captar.
Sertão é um polígono de vários lados,
onde nem seca, nem inundação podem se ver em separado
Meninas com a púbis de fora
Pedindo carona e esmola
Pra dopados insanos
Que matam e morrem em seu caminhão.
Vi o chão seco na aurora
Senhoras plantando no lixão
Vi a fome que devora
A dignidade de quem ora
Mas não recebe salvação
Vi a chuva e a seiva
A colmeia baixa da enxu
A florada do flamboiã
O nascimento do caju
Os olhos do sertanejo
Aguando a colheita do umbu
Vi hotéis de luxo
E o bucho do bode no prato do gringo
Vi o novenário de domingo
E a gente sem um pingo
De água pra tomá
Vi a miséria e a fartura
Irmanadas na cultura
de uma só gente
De um mesmo lugar
Vi o sertão high tec
E o moleque se dividindo entre a roça e o beck
Entre a vaquejada e o celular
a escola e o longo caminho de partir e voltar
Vi cisternas e outros sistemas
Pra colher umidades impossíveis
Cursos de rios desviados
Jorrando sonhos invisíveis
Vi o que não tinha pra ver
E os políticos felizes de doer
com o sucesso do esquema
Vi sanfoneiras de 5 anos
A memória viva de Gonzagão
A força bruta de lamparinas
Que nunca conseguiram ser lampião
A ausência de outros planos
Eu vi o povo junto
E vi também a solidão
Eu vi... vi
E hoje sei que Belchior tinha razão
Nordeste nunca houve
Nordeste é uma ficção
Principalmente pro imaginário
Insólito do sulista
Que de vista só conhece a ilusão
Eu vi e sei
que é muito mais do que minhas retinas puderam captar.
Sertão é um polígono de vários lados,
onde nem seca, nem inundação podem se ver em separado
Profundeza
Do corpo, que é estrada, muitos podem falar
pois passaram...
Mas da alma nada sabem
pois partiram
Da fundura dos olhos nenhum mergulho
pois secaram
e se ecoam só saudade
É por que jazem
Nem poeira, nem alento só bobagem
E hoje quando vejo a ingratidão
te encontro
Num cantinho aqui guardado
ao relento
Onde admiro tua miragem
e me sento
pra contemplar essa paisagem
cá a dentro
pois passaram...
Mas da alma nada sabem
pois partiram
Da fundura dos olhos nenhum mergulho
pois secaram
e se ecoam só saudade
É por que jazem
Nem poeira, nem alento só bobagem
E hoje quando vejo a ingratidão
te encontro
Num cantinho aqui guardado
ao relento
Onde admiro tua miragem
e me sento
pra contemplar essa paisagem
cá a dentro
segunda-feira, 13 de junho de 2016
Etimologia
Saru, sáré, sarau...
Se o termo original desembarcou aqui
Com um navio de Portugal
Foi nessa terra
que a palavra encontrou o sal
Com o Tupi foi amansada
Como a mandioca brava, foi domesticada
Com os negros aprendeu a correr
De boca em boca foi mastigada
Fez-se alimento, alento pra correria
Hoje seu berço é a periferia
E não há quem não reconheça a ousadia
Palavra da corte vadiando com alegria
Em botecos, becos e academias
Sirê, saiçu, sarau...
É o erudito madrigal, mas também é amor de índio recriando o matagal
É divertimento Yorubá vindo do Senegal, é a mistura da língua, o quilombo atemporal
Onde a palavra bebe o vento
E regorgita o vendaval!
Saru: Manso em Tupi
Sáré: Verbo correr em Yorubá
Sirê: Diversão em Yorubá
Saiçu: Verbo amar em Tupi
sábado, 14 de março de 2015
Sem tempo pra ser artista
Por um instante fiquei preocupado ontem com uma idéia que tive...
Pensei se devia escrever ou não pra não esquecer. Passou.
E a única coisa que tenho certeza no momento é que não fez falta deixar de ter registrado.
A poesia que eu deixei de escrever, o filme que eu deixei filmar, a tese que eu deixei de erigir sobre o nada e sobre o tudo, não são mais importantes que andar de bicicleta na chuva, não são mais importantes que o beijo da criança.
Se penso em movimentar o mundo, que eu não me deixe de mundiar pra que o movimento do amor se faça em mim.
Teria sido lindo o filme que eu não fiz, o poema que não escrevi, teria talvez ganhado muitos prêmios minha tese sobre o amor como a única teoria de tudo possível, mas o cangote de minha nega esperava um cheiro que só eu podia dar, e as teses, filmes e poemas muitos outros poderiam pensar.
O futebol com meus filhos ninguém jogaria melhor que eu, o bom dia pro meu vizinho ninguém faria melhor que eu.
Talvez não tenha tenha tido grandes idéias, por que estava muito ocupado vivendo-as.
Ou simplesmente por que não tinha papel na hora, ainda bem!
Pensei se devia escrever ou não pra não esquecer. Passou.
E a única coisa que tenho certeza no momento é que não fez falta deixar de ter registrado.
A poesia que eu deixei de escrever, o filme que eu deixei filmar, a tese que eu deixei de erigir sobre o nada e sobre o tudo, não são mais importantes que andar de bicicleta na chuva, não são mais importantes que o beijo da criança.
Se penso em movimentar o mundo, que eu não me deixe de mundiar pra que o movimento do amor se faça em mim.
Teria sido lindo o filme que eu não fiz, o poema que não escrevi, teria talvez ganhado muitos prêmios minha tese sobre o amor como a única teoria de tudo possível, mas o cangote de minha nega esperava um cheiro que só eu podia dar, e as teses, filmes e poemas muitos outros poderiam pensar.
O futebol com meus filhos ninguém jogaria melhor que eu, o bom dia pro meu vizinho ninguém faria melhor que eu.
Talvez não tenha tenha tido grandes idéias, por que estava muito ocupado vivendo-as.
Ou simplesmente por que não tinha papel na hora, ainda bem!
quarta-feira, 11 de março de 2015
Dois corações
Eu num sei explicar direito o que acontece, só sei que o pote de açucar caiu e eu comecei a chorar. No meio dos cacos sem conseguir abaixar direito pra limpar eu não me aguentei.
Outro dia foi a propaganda do banco, aquelas cores, aqueles sorrisos em câmera lenta, o texto até parecia um poema na voz do narrador, chorei de novo. E outra vez também por que o gato da vizinha estava preso no forro e não conseguia sair, e outro dia por que uma mãe gritou com seu filho no metro, e outras, e outras vezes...
Fiquei irritada com meu marido outro dia por que ele mudou a cama de posição, ele estava querendo deixar mais confortável pra mim, eu fui grossa e ele devolveu a grosseria, resultado me desmanchei a chorar, e ele também.
Penso as vezes comigo: "Meu deus devo estar chata demais..." - E ao pensar que talvez esteja incomodando as pessoas tenho que segurar as lágrimas.
É difícil se desconhecer. Minha serenidade para lidar com as coisas, minha coerência, meu controle emocional, fui tudo pro espaço. Mas ainda pior é a luta com as roupas. De repente nada me cabe mais, calças, blusinhas, calcinhas e até sapatos. Eu toda inchada me olho no espelho e sinto vontade de chorar por mais uma vez.
Se eu falar você num acredita, eu adorava alho, toda minha comida tinha alho, mas de uns tempos pra cá é só sentir o cheiro pra ter ânsia de vômito o dia todo. Isso também acontece com cheiro de brócolis, só que um pouco pior, eu acabo vomitando mesmo. E ontem foi no refeitório do trabalho, envergonhada e constrangida advinha o que aconteceu?
É... quando me tranquilizo e entro novamente em sintonia com meu corpo, e decodifico todo o amor que estou gestando, reflito comigo mesma: "Sentir tudo isso, só mesmo carregando dois corações!"
Outro dia foi a propaganda do banco, aquelas cores, aqueles sorrisos em câmera lenta, o texto até parecia um poema na voz do narrador, chorei de novo. E outra vez também por que o gato da vizinha estava preso no forro e não conseguia sair, e outro dia por que uma mãe gritou com seu filho no metro, e outras, e outras vezes...
Fiquei irritada com meu marido outro dia por que ele mudou a cama de posição, ele estava querendo deixar mais confortável pra mim, eu fui grossa e ele devolveu a grosseria, resultado me desmanchei a chorar, e ele também.
Penso as vezes comigo: "Meu deus devo estar chata demais..." - E ao pensar que talvez esteja incomodando as pessoas tenho que segurar as lágrimas.
É difícil se desconhecer. Minha serenidade para lidar com as coisas, minha coerência, meu controle emocional, fui tudo pro espaço. Mas ainda pior é a luta com as roupas. De repente nada me cabe mais, calças, blusinhas, calcinhas e até sapatos. Eu toda inchada me olho no espelho e sinto vontade de chorar por mais uma vez.
Se eu falar você num acredita, eu adorava alho, toda minha comida tinha alho, mas de uns tempos pra cá é só sentir o cheiro pra ter ânsia de vômito o dia todo. Isso também acontece com cheiro de brócolis, só que um pouco pior, eu acabo vomitando mesmo. E ontem foi no refeitório do trabalho, envergonhada e constrangida advinha o que aconteceu?
É... quando me tranquilizo e entro novamente em sintonia com meu corpo, e decodifico todo o amor que estou gestando, reflito comigo mesma: "Sentir tudo isso, só mesmo carregando dois corações!"
quarta-feira, 7 de janeiro de 2015
Violar
Em teus cabelos duros
meus dedos violam almas
nas tuas curvas ressoam o carma dos lenhadores
e a calma dos sonhadores
Teu braço se funde com o meu e nossas mãos juntas
rezam a prece dos fanáticos e dos ateus
Sua sonoridade de prata
chove com a minha voz uma melodia fininha
e assim, nós, o violeiro e a viola
seguimos a violar, os que moram dentro de si
e os que vivem sem lar
pelas estradas da vida
nas tuas curvas ressoam o carma dos lenhadores
e a calma dos sonhadores
Teu braço se funde com o meu e nossas mãos juntas
rezam a prece dos fanáticos e dos ateus
Sua sonoridade de prata
chove com a minha voz uma melodia fininha
e assim, nós, o violeiro e a viola
seguimos a violar, os que moram dentro de si
e os que vivem sem lar
pelas estradas da vida
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