sexta-feira, 11 de março de 2011

Elementos para uma filosofia do amor (parte 1)


Casar é convidar alguém a ser um espectador diário da sua vida,
descobri esses dias que a palavra espectador vem do latin Especulum que significa espelho. Pude compreender então que casar é ter alguem cotidianamente te refletindo, te mostrando quem você é e vice e versa.
Acho que só descobri algumas partes de mim através da relação conjugal e assim sendo pude perceber que a maior questão no dia-a-dia da relação não é a convivência com o outro, mas sim com o que o outro revela de nós. Por muitas vezes nos negamos a estabelecer vinculos mais duradouros com quem amamos por conta do medo de desvendar quem realmente somos.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Mosaico

Dos cacos de amor
A tentativa esquizofrênica
De montar uma imagem.
No ideário são peças. mas de fato não às são

Quebra-cabeças da utopia
Retalhos de gente. estilhaço, agonia...
Miragem?

Te admiro da margem de minha imaginação
Te miro em pintura com a ponta do meu pincel

Penso em fazer um mosaico,
Mas pêgo em meu romântico
Ato prosaico,
desisto.

Mosaico só é belo pra quem vê de longe,
De perto ainda é caco, é risco.

Artista em euforia,
na eminência da obra que não correspondia
o sangue empenhado na construção,

Eu, pela primeira vez senti medo de criar

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Um dia de cada vez,
uma vez todo dia
ainda que sempre sangre
e que se espalhe em torrente agônia
prefiro as guerras,
guerras de poesia!

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Túnel do tempo


Hoje olhei na fresta do passado
e me vi lentamente derramando-me
pro que agora sou

sangrei vaidades, senti saudades, revivi alegrias...
reamarrei a lembrança na trouxa que carrego pelo mundo
resgatei quem fui por alguns segundos
e respirei ares bravios de tempos atrás

um aroma gostoso e pesado

logo meus pulmões de agora
me forçaram a voltar pro presente

Mas naqueles instantes eu pude
reacender uma lâmpada incandescente
que há muito vivia apagada nas veredas
do coração

um gosto antigo veio revisitar meu paladar,
antigas canções soaram em meus ouvidos
enquanto eu observava aquela velha fotografia

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Karma

"... talvez a soma dos nossos sofrimentos
torne menos dolorida a nossa dor"
(João da Cruz)


Ele, menino sem dotes financeiros, dava presentes intrínsecos em canções e versos. Era o que ele sabia fazer de melhor e era desta maneira que agradava as garotas, já que apenas as palavras e melodias eram riquezas à serem partilhadas.

Desta maneira ele descobriu as mulheres, como quem absorve com os olhos e com o coração cada letra nas páginas do corpo, foi sendo poesia que ele deu a luz às poetizas escondidas e se desescondeu de seus desejos.

Escrevia sempre
em resposta aos poemas
que lhe tocavam

escrevia como se pudesse partilhar um pouco da angústia que latejava nas palavras alheias, era como se pudesse à partir da dor do outro compreender sua própria dor. Ali lendo as poesias daquelas mulheres que a vida tinha lhe apresentado, era como se lesse a vida de cada uma delas, era como se num livro aberto ele vislumbrasse em entrelinhas as sensações, os sentimentos, o momento que passava a pessoa.

E em resposta, tentava acrescentar a vírgula que a moça não tinha colocado na frase, tentava por a crase e o acalento que talvez precisasse a menina, era essa sua sina.

Devanear carinhos mesmo que distante, era como se lançasse uma flecha penetrante no pensamento delas e contaminasse com sensações opostas as teorias implícitas. Se falavam de amor ele lembrava que ainda existia o abandono, se bradavam contra as misérias sociais ele falava das belezas contruídas pela humanidade, se falavam de vaidade ele trazia a pobreza, se era realidade o tema ele divagava entre sonhos e mitos.

Elas, poucas vezes entendiam que certas poesias tinham endereço em seus corações, mas ele não fazia questão do entendimento deixava que o tempo colocasse o sentido no esquecimento, também pra que pudessem as palavras ganhar novos significados.

Esse seu vício, era um misto de prepotência e amor,
era gostoso de ser vivido,
fazia bem ao muleque atrevido
que não sabia dizer adeus aos amores do passado.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Se pá!

Vamos supor
que de hoje em diante o sol
não vai mais se pôr

Vamos supor
que a noite não vai mais cair,
suponhamos que não se possa mais sonhar...
suprir

vamos supor, vamos pré supor, vamos se pá supor,
que seja possível separar a dor do dia-a-dia
Vamos supor que quanto mais dor mais alegria
suportemos topor e agônia

Vamos supor que pra sempre seja alegoria
do que nunca é...

Vamos supor José, vamos supor João
que seja possivel sobreviver sem arroz e feijão
vamos se opor à sabatina, a rotina do patrão

vamos sangrar, vamos sorver,
vamos supor supraviver!

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Escritura

Deixei pra ti como herança
uma semente, uma lembrança

deixei de te deixar,
parei de tentar apartar seu sentimento do meu peito

Aprendi a conviver com o respeito
fiz canção sua passagem em minha vida
e imortalizei sua existência em mim

A parcela essencial do fim
que disparou um novo tempo um novo princípio

Enfim... deixei escrito
espero que sempre releia
pra memorar o que nunca deixará
de correr em nossas veias