-Posso te contar um segredo?
O olhar era de medo e de coragem ao mesmo tempo. Difícil de conceber, mas era exatamente assim. Não olhava diretamente nos olhos, mas trazia na voz um desejo de confissão sangrada, das confissões que se precisa ter coragem pra dizer, por mais bobas que possam parecer ao outro. Então eu disse:
-Conta.
Também estava com medo, porém percebia ser um medo diferente, daqueles medos de ter que ser sincero. Ridículo né? Mas existe, medo de ser sincero…continuou:
-Não sei se devo.
Exitava pra testar se realmente valia dizer, o que é bom, afinal não se conta um segredo pra quem não o dará o devido valor, pra quem não o guardará com o respeito necessário.
-Conta eu quero escutar. Enfatizei.
-Lá vou eu de novo me adiar no processo que estamos construindo. Disse ela me encarando.
Senti nos olhos dela a história dos seus anos, suas dores, seus anseios…Os olhos são as portas do inferno interior de cada um e só se pode ir ao paraíso atravez dessas passagens. Eu queria dividir a visão do meu inferno com ela, mas assim como ela, eu também tinha medo.
-Acho que eu…
Conteve-se e me deu um beijo bem de leve.
Como quem mede a temperatura do lábio para medir a temperatura da recepção do que diria. Afinal não há medo no dizer, mas sim medo no como receberão o que dizemos.
-Pode falar!
Disse firme, mas inseguro. A insegurança é a condenação de quem será posto à prova.
-Acho que eu estou…
Parou de me olhar nos olhos, por um segundo pensou em não mais me dizer. Pensou: “E se ele for como todos os outros?”. Ela não tinha medo da minha estranheza, mas da minha semelhança.
-Acho…
Segurei de leve o seu rosto e a obriguei a me olhar nos olhos novamente.
-Acho que eu estou completamente apaixonada por você!
Disse como quem tirava uma cruz das costas e na sequência já ia se justificar, mas interrompi.
-Eu te amo.
Disse me desarmando, como quem relativizava e sentia incompletude no que ela havia dito.
-Qual a diferença de estar completamente apaixonado e de amar?
Ela sorriu com o canto da boca e olhou tão profundamente nos meus olhos que eu me senti invadido, provei do meu próprio veneno e tive medo. Eu que sempre estava à olhar todos de frente e com segurança, titubiei e me entreguei como quem desvirginava um novo mundo. Ela com tom surpreso e feliz respondeu:
-O tempo?
Falou como quem blefava com cartas boas pra jogar. Eu retruquei:
-Mas como prever o tempo limite entre a paixão e o amor. São nomes, são só nomes!
Eu dizia algo que ela já sabia e pra nós dois só precisava ficar mais explicito. Insisti:
-O tempo é relativo, podemos construir amores e paixões breves ou grandes sentimentos, não é? Você mesmo já me disse isso lembra?
Ela disse estar mais leve e eu fiquei a observar seu corpo deitado sobre o meu.
Nos apresentamos aos nossos infernos e o paraíso já podia vir. Foi quando ela encerrou:
-Será que era mesmo um segredo?
sábado, 21 de novembro de 2009
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Segunda - Feira, 18 de Março
Não é o dia de hoje,
não é questão de tempo
escrevo com a dor do ontem
o passado advento.
Sem muito o que dizer
regeito o que escuto,
assim, docemente bruto.
Uma anomalia,
a cria de Roberto Piva e Saramago.
Sou aquele que mata quem mais ama
só pra ver morrer um pouco de si
no meio do estrago, um mago!
Meio menino,
meio homem,
meio pedra,
meio mar...
Hoje resolvi te abandonar e morri
o calendário esqueceu de contar.
não é questão de tempo
escrevo com a dor do ontem
o passado advento.
Sem muito o que dizer
regeito o que escuto,
assim, docemente bruto.
Uma anomalia,
a cria de Roberto Piva e Saramago.
Sou aquele que mata quem mais ama
só pra ver morrer um pouco de si
no meio do estrago, um mago!
Meio menino,
meio homem,
meio pedra,
meio mar...
Hoje resolvi te abandonar e morri
o calendário esqueceu de contar.
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Nosso mundo, nossa língua, nossa reza
Nos seus olhos,
o mundo, meu mundo
olhos nús
Quando te olho
num segundo
a escuridão vira luz
A volta do corpo
o sentimento fecundo
uma volta no mundo
meu braço em volta de ti
Da altura dos sonhos
num abismo profundo cai.
Amor...amor não doe
quando a queda é pra dentro de si
Não há palavras pra descrever
quando a língua percorre o seu corpo
nas curvas, nas vias no reto, no torto
Meu dialeto morto conhece o esperanto do teu ser
E ali espera morrer
na entrega vertiginosa
no descobrimento do que até então não conheci
Amor...amor não doe
quando a queda é pra dentro de si
Nossa reza
nossa ligação com o divino
o suor no suor, a invenção do destino
Orixás e xamãs
haverão de invejar
nosso amor sagrado
nosso vôo sem ar
do colo de deus
em seu colo cai
Amor...amor não doe
quando a queda é pra dentro de si
o mundo, meu mundo
olhos nús
Quando te olho
num segundo
a escuridão vira luz
A volta do corpo
o sentimento fecundo
uma volta no mundo
meu braço em volta de ti
Da altura dos sonhos
num abismo profundo cai.
Amor...amor não doe
quando a queda é pra dentro de si
Não há palavras pra descrever
quando a língua percorre o seu corpo
nas curvas, nas vias no reto, no torto
Meu dialeto morto conhece o esperanto do teu ser
E ali espera morrer
na entrega vertiginosa
no descobrimento do que até então não conheci
Amor...amor não doe
quando a queda é pra dentro de si
Nossa reza
nossa ligação com o divino
o suor no suor, a invenção do destino
Orixás e xamãs
haverão de invejar
nosso amor sagrado
nosso vôo sem ar
do colo de deus
em seu colo cai
Amor...amor não doe
quando a queda é pra dentro de si
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Meia noite
Às vezes eu tenho a impressão de poder tudo!
Faço poemas, escrevo teorias, interpreto peças, vou até a lua...
Mas ao mesmo tempo quando olho pra rua, nas coberturas dos bares
os mesmos homens sem lares,
as mesmas feridas sociais incicatrizáveis.
Percebo que tudo que eu queria
era que aquele cara não mais passasse fome,
mas isso que se resolve aparentemente tão facilmente,
esse mal sem nome, esse grito estridente
é o redemoinho demente do insustentável.
Minha poesia não o tira da rua, minha teoria não resolve sua vida.
Eu tenho que chegar meia noite em casa
e quando passo na avenida, interpreto minha angústia,
divagando sobre a questão mal resolvida.
Faria muito mais, se não tivesse que chegar meia noite em casa!
Faço poemas, escrevo teorias, interpreto peças, vou até a lua...
Mas ao mesmo tempo quando olho pra rua, nas coberturas dos bares
os mesmos homens sem lares,
as mesmas feridas sociais incicatrizáveis.
Percebo que tudo que eu queria
era que aquele cara não mais passasse fome,
mas isso que se resolve aparentemente tão facilmente,
esse mal sem nome, esse grito estridente
é o redemoinho demente do insustentável.
Minha poesia não o tira da rua, minha teoria não resolve sua vida.
Eu tenho que chegar meia noite em casa
e quando passo na avenida, interpreto minha angústia,
divagando sobre a questão mal resolvida.
Faria muito mais, se não tivesse que chegar meia noite em casa!
terça-feira, 1 de setembro de 2009
Pra que a doçura não me cegue
Nos sarcófagos d`alma meus demônios nunca dormem
sempre abraçados a minha sinceridade, riem das feridas alheias,
cospem nas seias dos patrões.
São esses diabos moradores do céu da minha boca
os vomitadores das falas pesadas que amassetam corações,
são os vilões da sociabilidade,
aqueles que amam a dor e doem de tanto amar.
Flores que a esperança esqueceu-se de murchar
no outono da existência.
Os portadores do meu mal necessário
alegorias da demência.
São esses em mim as pombas giras da visão,
pra que na alvorada da paixão
a doçura não me cegue!
sempre abraçados a minha sinceridade, riem das feridas alheias,
cospem nas seias dos patrões.
São esses diabos moradores do céu da minha boca
os vomitadores das falas pesadas que amassetam corações,
são os vilões da sociabilidade,
aqueles que amam a dor e doem de tanto amar.
Flores que a esperança esqueceu-se de murchar
no outono da existência.
Os portadores do meu mal necessário
alegorias da demência.
São esses em mim as pombas giras da visão,
pra que na alvorada da paixão
a doçura não me cegue!
sábado, 15 de agosto de 2009
Deste lado

O que sinto por você...nem sei dizer,
poderia descobrir se tivesse tempo pra entender,
poderia mentir se percebesse
que isso tornaria as coisas melhores.
Mas pra variar, você não estava preparada pra sinceridade,
como muitas outras mulheres.
Você não estava preparada pra dúvida,
não estava preparada pra verdade residente na incerteza,
não podia perceber a beleza do que o tempo pode nos dar.
Sementes ao solo, flores começando à rasgar o chão.
E você a jardineira de pés de aço e alma de fogo,
quis discontar em mim (uma muda de sonho)
toda dor que o mundo lhe causou
pisou no meu corpo, dilacerou o breve arbusto que crescia.
Que nome dar pro sentimento, eu nem sabia!
Mas provei o fél de sua agônia, entendi...
Era sua dor e quem era eu pra ser diferente.
A dor de séculos contra a dor do presente!
Compreendi que as vezes jogamos sementes,
mas não estamos preparados pro que pode nascer
Deitados sob as folhas de uva ouvi você dizer:
"isso não é delirio. é dança,
não é vinho, é vingança!!!"
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Minguante
Assinar:
Postagens (Atom)