sexta-feira, 17 de junho de 2011

Quando nasceram...

Quando nasceram pra mim João e Flora, nasceram em mim flores e auroras, me nasci no nascimento dos dois. Ouso até dizer que talvez nunca tenha vivido antes deles.
Mesmo em tempo diferentes, em dias diferentes, chegaram com aromas e cores leves, me tiraram o mundo das costas, me mostraram um caminho novo. Simples e gostoso de caminhar. Digo que talvez nunca tenha vivido antes deles, pois talvez não tenha conhecido nada que me desse mais sentido pra perenizar a existência.

Quando mais moço cheguei em minha mãe certa vez e disse: "Eu nunca quero ter filhos!!! Filhos pra que? Colocar gente nesse mundo pra sofrer..." Ela serena e com certo tom irônico respondeu: "É uma pena, você vai perder a oportunidade de vivênciar uma das experiências mais belas da vida!"
Malditas e sagradas palavras! Coisas que só a boca das mães podem profetizar. Eu fiquei mudo naquele instante, fiquei com certo eco daquelas palavras por anos, até que a compreenssão me veio no dia 14 de julho de 2007, pra ser mais exato às 11:54 da manhã, depois de uma madrugada fria no corredor de entrada da Santa Casa de Sto Amaro. Briguei a noite inteira pra ter notícias e pra saber a hora exata do parto, e derepente a iluminação me veio. Não queria perder aquele momento. Acho que nove meses vendo a barriga crescer, cantando músicas, escrevendo poemas, fazendo carinhos e contando histórias, não foram o suficiente pra minha ficha cair, eu seria pai e por mais óbvio que parecesse, não era nada óbvio.
Cansado de perguntar e não ter retorno, subi as escada como quem já soubesse o caminho, diretamente para umas das entradas da obstetrícia e lá já na porta a enfermeira disse: "você é o acompanhante da Ivaloo? Veio assistir o parto né?" Eu um tanto quanto atônito respondi apenas sim e já fui encaminhado para um banheiro com um kit especial de higiene para tais momentos, tocas, calças, camisas e forração para os sapatos. Fui então para a sala de parto. No caminho gritos e respirações fortes, somadas a choros de diversos tipos de diversas mulheres diferentes. Cheguei à ela. Estava irreconhecível, parecia uma leoa amarrada, gritava, xingava as enfermeiras, chorava e respirava como se trouxesse pros pulmões todo ar do universo. Minhas pernas nesse momento começaram a tremer. Fui em direção a ela e segurei sua mão, a única coisa que consegui balbuciar foi: "Calma, eu tõ aqui com você". Mas minha alma parecia querer sair do corpo, fiquei meio tonto repentinamente e minha vista começou a escurecer, pensei: "vou desmaiar". Mas num subito de força me voltei pra ela com tanta dor e me concentrei: "Não vou desmaiar! Não vou desmaiar!". E de fato eu não desmaiei fiquei firme por ela até o nascimento do joão. Descobri duas coisas naquele momento. Uma que eu tenho uma força mental que eu mesmo não conhecia. Segundo que de fato agora eu era pai.
A Iva estava muito frágil e incrivelmente cansada, mas a feição mudou totalmente quando o chorinho sangrado de joão indicou o nascimento. As enfermeiras colocaram ele sobre a barriga dela e um abraço trancedental selou o amor eterno.

Porém os procedimentos e a lógica industrial dos hospitais públicos interrompeu a poesia. Levaram o João para a limpeza e eu fiquei divido, fico com ela ou vou atrás da crinça? Fiquei um pouco com ela e pude fazer coro contrário as brutalidades das "enfermeiras" que fizeram o parto: "Não queremos bisturi, vai com calma, cuidado!" Tudo aquilo que você espera não ter que dizer pra uma profissional da saúde, mas a realidade é essa. Quando as coisas acalmaram fui ver o João, que por sua vez ainda passava pelo procedimento de limpeza. Quando deitaram ele na balança eu cheguei bem perto do rosto dele e vi seu olhos se abrindo pela primeira vez. Fui a primeira imagem que seus olhos recém chegados à luz puderam ver. Nesse momento foram os meus olhos que viveram o inesperado. Lágrimas aos rios, fiquei ali ainda por alguns segundos conversando com ele até me convidarem à retirada com o desrespeito padrão. Mas nada me tirava a alegria do peito, eles estavam bem e logo sairiam dali.

A vida depois daqueles momentos nunca mais foi a mesma, por mil motivos. Pelas dificuldades da vida de casado, pela extrema dedicação à criança e a família, por uma realidade de fato diferente da que eu vivia antes. Mas também pelos sorrizos e primeiros passos, pelas músicas dançadas juntos, pelas manhãs de sol no parques, primeiras papinhas, primeiras palavras, primeiros abraços e beijos. Coisas que este texto não daria conta de descrever.

Assim o tempo foi passando, brigas, acertos e desacertos, situações que nos levaram ao crescimento. Ao fortalecimento disso que hoje é meio descartado, mas pra mim é fundamental "A família". Dentre as várias situações que me colocaram de frente com a realidade social que se passa ao ser pai uma das mais simbólicas e fortalecedoras foi a creche. Lugar que o João conheceu bem cedo. É claro que não por que queríamos, mas por força das circuntâncias. Afinal é filho de pais trabalhadores que não podiam se dar ao luxo de ficar em casa só cuidando do seu desenvolvimento. Quando tinha 5 meses já teve de adentrar a vida escolar. Mundo que eu dei os primeiros passos com ele, pois trabalhava em casa nessa época. E tinha uma flexibilidade de horário diferente da mãe dele. Logo fui eu que fiquei com ele no desmame, periodo terrível. A adaptação ao bico da mamadeira era complicadíssima. E joão chorava por horas e horas durante o dia. Eu tentava de tudo, e quando não tinha mais o que fazer chorava com ele.

Toda Creche tem um tal período de adaptação por norma do governo, e nesse período os reponsáveis devem ficar com as crianças meio período até que estejam preparadas para a realidade do período integral, coisa que eu concordei de cara, entendia a importância disso para a criança. E assim sendo fui com ele para mais essa guerra.

Lá me deparei com um dado extremamente expressivo. Eu era o único pai a fazer esse acompanhamento em uma escola com 200 crianças mais ou menos. Fiquei estarrecido e mais ainda pelos discursos: "Por que sua mulher não veio?". Ali se mostrava a cara disso que a sociedade dos pós modernos tenta fingir que não existe. O machismo é real. E está em todos, inclusive em mim. Apesar da luta pra nadar contra a maré.

Eu por sorte do destino tive mulheres de muita fibra cuidando de minha formação o que me abriu os olhos às injustas posições ocupadas por homens e mulheres nesse sociedade, por isso de alguma forma eu sempre me senti responsável por uma educação diferenciada aos meus herdeiros. E três anos depois não por acaso, uma nova mulher entrou em nossa família. "Flora" foi quem me deu deu essa oportunidade.
Chegou pra coroar uma nova fase de nossas vidas, chegou tranquila e sem premeditações. Chegou no tempo dela e nos pegou de surpreza num sorvete no meio de um passeio no shopping: "A bolsa estourou!" disse Ivaloo, mas muito calma como é, já logo emendou: "Ah, ela vai esperar eu terminar de comer o bolo". Porém a serenidade foi interrompida por um turbilhão de emoções depois que uma vendedora ouviu que a bolsa tinha estourado: "Nossa! Vamos chamar a segurança, bombeiro, médico!" e foi uma loucura, todos vieram ao mesmo tempo, eu também muito calmo fui ao caixa saquei dinheiro e esperei o táxi.
No hospital Flora chegou tão rapidamente que nem deu tempo de me deixar assisti-la nascer como fiz com o João. Mas veio com saúde e a mãe também ficou bem.

Hoje, 5 meses depois de seu nascimento, vivemos os quatro no nosso cantinho em Taboão da Serra. As vezes rimos juntos, as vezes brigamos juntos, mas sempre terminamos à noite os quatro emaranhados na cama de casal. com a certeza de que nos amamos e o caminho é só esse. Todo dia nascendo pras novidades que o tempo trás.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Nostálgico

Quando escuto uma canção que cantamos juntos
quando o vento tráz poesia no cheiro
quando o silêncio nos remete aquele tempo mágico
eu fico assim meio nostálgico

Quando a memória tenta lembrar o por que daquela briga
quando percebo que hoje já não faz mais sentido
quando o peito reclama a falta dos amigos
quando a solidão nos remete algo trágico
eu fico assim um tanto quanto nostálgico

Quando vivo, me encontro vitorioso
refletido no espelho, dado fora da estatistica
quando sonho e a beleza vem naturalmente
ainda que a realidade dura
reclame a injustiça que se sente
eu fico bem e continuo a distribuir sementes

Mesmo tão nostálgico, eu sei
não parei no tempo!

Reinvento a saudade e me alimento no presente.
Com os sabores de outrora construo as boas novas do caminho
Como um velho vinho
que só tende a melhorar com o passar dos anos.


Para os velhos amigos que o tempo afastou:
Palitão, Gilberto, Juliana Félix, Daiana, Cavalo,
Paulo, Orlando e Thiago (falecido).

ainda estamos juntos

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Novos tempos


À cima de tudo novos ares,
com passos firmes vejo o objetivo próximo
o caminho nunca foi tão fácil
não há pesares

Posso olhar pra tráz como poucos podem,
porém sigo em frente
sem medo, sem rédeas
não me cabem as médias, as mediocridades,
as tragédias...

sabedoria nos passos,
sorrizo largo apesar do cansaço

A vida agora é amiga!